Daniela Lima – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Hoje vistos como aliados, o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nunca foram pessoalmente próximos. Donos de estilos antagônicos, trocaram por anos críticas nos bastidores sobre a forma como cada um faz política.
Cunha sempre se referiu a Temer como um homem "indeciso" e "pouco incisivo". O vice, por sua vez, considera o presidente da Câmara seu avesso: agressivo e impetuoso. As diferenças de atuação já renderam cenas insólitas.
Cunha nunca foi do tipo que pede licença para entrar. O correligionário, por sua vez, é conhecido pelo comportamento protocolar.
No primeiro mandato de Temer como vice, Cunha costumava aparecer logo cedo na residência oficial, o Palácio do Jaburu, ou passar horas na sala do correligionário na vice-presidência.
A falta de cerimônia começou a incomodar e, à medida que o desconforto crescia, Cunha amargava mais tempo nas salas de espera.
O hoje presidente da Câmara chegou a pedir que colocassem um ramal à sua disposição. Da antessala do vice, ligava para aliados e anunciava que estava telefonando do Planalto.
Cunha cresceu no PMDB e na política rodeando líderes do partido. Antes de chegar a Temer, aproximou-se do hoje ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Sua ascendência sobre o partido ficou evidente entre 2013 e 2014, quando Alves se tornou presidente da Câmara e Cunha, líder do PMDB.
Cunha ampliou estratégia que usara para chegar até ali: distribuía a aliados relatorias importantes e, com esses "favores", cativou parceiros. Nunca foi querido pelos nomes mais tradicionais do partido. Tornou-se necessário.
A lógica foi a mesma usada por Cunha para amarrar a oposição a seu projeto. Eleito presidente, deu a PSDB e DEM vagas em comissões, relatorias de projetos e CPIs que, sem sua disposição pessoal, jamais estariam fora das mãos de aliados do governo.
O método criou constrangimento a líderes desses partidos quando Cunha foi acusado de corrupção.
Apesar de não gostar da forma como Cunha atua, Temer reconhece a astúcia do correligionário. Aliados do vice contam que, numa das primeiras conversas privadas que tiveram, Temer ficou impressionado com a desenvoltura com que o deputado falava sobre o regimento interno da Câmara.
"É advogado?", perguntou o vice, que é constitucionalista. "Não, economista", respondeu Cunha.
Apesar das divergências, integrantes da ala que faz oposição a Temer no PMDB têm dito que Cunha passou recentemente a influenciar o comportamento do vice. Eles dizem que, desde que o impeachment se tornou uma realidade na pauta do Congresso, Temer passou a exibir um estilo mais agressivo na condução de seu grupo e do próprio partido.
Citam como exemplo a dobradinha dos dois na operação que afastou temporariamente Leonardo Picciani (PMDB-RJ) da liderança do PMDB.
Amigos do vice dizem que não existe aliança entre Temer e Cunha e que os que apontam nesse sentido atuam para desgastar o vice.
Cunha, no entanto, se tornou defensor da atuação de Temer e de sua permanência no comando nacional do PMDB, contra articulação deflagrada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para apear o vice da presidência da legenda.
No apoio de que Temer deve continuar na presidência da sigla, Cunha vai contra as principais lideranças do partido em seu Estado, o Rio de Janeiro. Sempre que questionado sobre o futuro de Temer no partido, o deputado é taxativo. A aliados, diz que tentam derrubar o vice da presidência da legenda há anos e aposta: "Mesmo sem o apoio formal do Rio, ele fica".
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