- Folha de S. Paulo
Uma conhecida minha dos EUA, que trabalha numa consultoria de risco geopolítico e passou o fim do ano na Bahia, parece ter sido contaminada pelo otimismo inocente típico desses dias.
Antes do fim de 2015, me perguntou: o Congresso ter se tornado um polo rebelde ao longo do ano não aproximou o presidencialismo brasileiro do modelo norte-americano? Isso não seria, no fundo, bom?
O presidente dos EUA é a pessoa mais poderosa da Terra, mas tem as mãos amarradas por um sistema em que Câmara, Senado, Suprema Corte e 50 Estados que o impedem de fazer o que bem entender.
Escrevendo sobre o contínuo processo eleitoral americano, que desaguará no pleito presidencial deste ano, o dono de consultoria George Friedman lembra que a sucessão de primárias e "caucuses" serve a um propósito dos pais fundadores da nação: paralisar o governo ao máximo, para evitar voluntarismos.
Para bem e para mal, o Brasil é um pastiche diverso do bipartidarismo, ponderei. O "parlamentarismo branco" de 2015 foi uma novidade. Seria alvissareira se não tivesse parido pautas-bombas e bizarrices, antes de virar a briga de foice do impeachment, apimentada pela Lava Jato.
A acefalia do Executivo seria interessante se o país andasse sozinho, mas estamos longe disso. A julgar pelo artigo róseo publicado neste jornal na sexta (1º), Dilma segue em outra esfera (Pronatec? Solidez econômica? Reforma?), impressão reforçada pelo fim de ano errático: aumenta de forma populista o salário mínimo enquanto retira dinheiro de creches.
Com o vácuo em expansão, além das saídas constitucionais surgem sussurros parlamentaristas. A desgraça é que, com a qualidade do material humano e o modelo de nossa representação, fica difícil ver um desfecho otimista em qualquer caso.
Talvez o melhor seja capitular, tirar uma "selfie" na praia, pular ondas, dançar um tango argentino.
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