- O Globo
Inflação e recessão deixam BC num beco sem saída. O Banco Central enfrentará uma decisão difícil esta semana. Economistas que normalmente não hesitariam em recomendar a elevação da taxa de juros diante da inflação em dois dígitos temem os efeitos colaterais do remédio em uma economia tão enfraquecida. A aposta mais frequente é que o Copom subirá mais os juros, iniciando um novo ciclo de aperto na reunião que começa hoje.
Apolítica fiscal ainda tenta acomodar gastos; as pedaladas foram pagas com recursos que não deveriam estar quitando despesas primárias; o ministro da Fazenda tenta estimular os bancos a ampliar o crédito. O Banco Central está diante de uma taxa de 10,6% de inflação e a perspectiva é de novo estouro do teto da meta em 2016.
O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, acha que o BC tem que elevar os juros porque a previsão de inflação continua muito alta:
— Pelo Focus divulgado hoje, a previsão para este ano foi para 7%. A nossa projeção é de 8%, e pode ser mais. A percepção do mercado é de que o Banco Central não tem autonomia para subir a Selic, que ele não pode fazer o que tiver que fazer. A inflação de janeiro deve ficar em torno de 1%, então a taxa em 12 meses vai continuar em dois dígitos.
Apesar da recessão, a inflação está alta.
O problema é exatamente este. A recessão é forte, mas a inflação é alta. O custo fiscal cresce com a elevação dos juros, mas a política fiscal não dá sinais de se esforçar na direção de enfrentar o aumento dos preços.
Para Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, o Banco Central vai subir os juros apenas porque já disse antes que o faria, o que ele considera um erro, porque quando o BC falou não estava ocorrendo a temporada de volatilidade da China. Na inconstância do quadro internacional, hoje, Carlos Thadeu de Freitas acha que nenhum banco central deveria se comprometer. Pondera ainda que a inflação vai cair:
— A inflação está alta, mas está desacelerando. Teremos este ano uma taxa bem menor do que no ano passado, entre 6% e 6,5%. No ano que vem, vai ser algo entre 5,5% e 6%.
Ela vai cair, mas não vai chegar ao centro. A meta de 4,5%, hoje, é romântica. O BC teria que subir os juros para 16% ou 17% para levar o IPCA à meta no ano que vem.
Esse ponto foi defendido por Luiz Carlos Mendonça de Barros, da Quest Investimentos, em artigo no “Valor” de ontem. José Márcio pondera que a inflação estará em queda “se tudo der certo”, mas se houver um choque, não haverá como acomodar. Com a inflação alta, como a atual no Brasil, qualquer inesperado pode levá-la a dar novos saltos.
Roberto Padovani, do banco Votorantim, acha que os juros devem subir, mas admite que a situação é muito delicada:
— Existe essa discussão entre economistas muito sérios. Uns acham que deve subir, outros acham que a alta agrava o problema. Nós temos uma economia muito fraca, mas com inflação de 10%. A situação é atípica. Se eu fosse do Banco Central, votaria pela elevação dos juros. Em uma situação normal, não seria necessário, mas não é o caso agora. Numa situação normal, teríamos um governo com mais credibilidade e uma política fiscal com superávit. Mas temos um governo que nunca colocou a inflação no centro da meta, e a política fiscal está com déficit, sem previsão de voltar ao superávit. Então o que sobra para o governo combater a inflação são os juros.
Mesmo quem acha que os juros devem subir, entende que o melhor seria se não fosse preciso. Ninguém duvida que vai piorar a recessão. Alexandre de Ázara, economista-chefe e sócio da Mauá Investimentos, acredita que os juros vão subir, mas admite o dilema:
— Todo mundo concorda que o problema da inflação vem da política fiscal, e não da política monetária. Como o Banco Central já se comprometeu em subir os juros, ele vai subir, mas sabendo que isso não vai resolver o problema da inflação. A questão é que ele não pode desgastar ainda mais a sua reputação. O tamanho do ciclo de alta é a dúvida.
Sobre esse quadro, o Banco Central se debruça a partir de hoje para saber como combater a inflação usando a arma que tem e que pode enfraquecer mais ainda a economia brasileira. E não poderá ser uma alta apenas, mas o início de um ciclo de aperto monetário no segundo ano de uma recessão.
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