• Vice-presidente refuta tese da ex-ministra e principal líder da Rede, segundo a qual PMDB quer usar impeachment para enterrar Lava Jato
Isadora Peron - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer rebateu nessa segunda-feira, 18, as declarações da ex-ministra Marina Silva, principal líder da Rede Sustentabilidade, sobre uma eventual paralisação nas investigações da Operação Lava Jato caso haja o impeachment da presidente Dilma Rousseff e ele assuma o Palácio do Planalto.
"Fico preocupado com essa manifestação de desconhecimento institucional por uma pessoa que foi candidata a presidente da República por duas vezes. Nenhum presidente tem poder de ingerência nos assuntos de outro Poder", afirmou o vice-presidente em nota enviado ao Estado.
Michel Temer afirmou que o Judiciário brasileiro e os demais órgãos ligados de maneira direta ou indireta a ele têm independência e que essa é uma premissa garantida pela Constituição de 1988. "É gravíssimo que a uma figura pública tente desprestigiar os Poderes soberanos do Estado", disse.
No domingo passado, após uma reunião da Executiva da Rede Sustentabilidade, em Brasília, Marina afirmou que o impeachment e eventual ascensão do peemedebista à Presidência poderia causar uma paralisação nas investigações da Lava Jato. De acordo com ela, a troca do mandatário do País daria a impressão de que o problema da corrupção havia sido resolvido e poderia desmobilizar o apoio da população em relação às investigações em curso.
O PMDB, no entanto, viu na afirmação de Marina insinuação de que, uma vez no comando do Executivo, Temer poderia trabalhar para tirar poder da força-tarefa da Lava Jato e esvaziar a operação, que tem o partido do vice como um dos mais atingidos até agora.
A Lava Jato investiga esquema de desvios e de corrupção na Petrobrás. Entre os peemedebistas investigados estão Eduardo Cunha (RJ), Renan Calheiros (AL) e Edison Lobão (MA). O próprio Michel Temer chegou a ser citado por um dos delatores. O vice nega qualquer envolvimento com o esquema.
Marina, que foi candidata à Presidência em 2010 e em 2014, afirmou que PT e PMDB são "faces da mesma moeda" e são responsáveis pelos sucessivos escândalos de corrupção que afetam o País. Por isso, ela disse que o melhor caminho para resolver a atual crise política seria a cassação dos mandatos de Dilma e Temer via Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso fique comprovado que o dinheiro usado pela dupla na campanha de 2014 foi fruto de desvios na Petrobrás.
Eleições. A fala de Marina Silva também foi interpretada como uma tentativa da ex-ministra de aproveitar aquilo que os marqueteiros chamam de "recall" eleitoral, a lembrança que os eleitores têm de candidatos recentes. Por isso, dentro do PMDB, do PT e do PSDB, a tese defendida por ela foi acusada reservadamente de "oportunismo".
Nas mais recentes pesquisas de intenção de voto, Marina Silva aparece quase sempre nas três primeiras posições, rivalizando com o senador Aécio Neves (PSDB) e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nome mas forte do PT.
A realização de novas eleições também é uma das bandeiras de Aécio Neves e da ala de tucanos ligadas a ele. As quatro ações no TSE contra a campanha eleitoral de Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014 são assinadas pelo PSDB nacional.
Pressão. Reservadamente, integrantes da Rede confirmam que um dos motivos para o partido ser contra o impeachment de Dilma Rousseff é justamente o medo de que Temer possa atuar para enterrar as investigações, já que nomes importantes do PMDB estão sendo investigados pela Operação Lava Jato.
Os aliados de Marina acreditam que o vice seria mais suscetível à pressão dos líderes de seu partido e poderia trabalhar para inibir a atuação da Polícia Federal, seja repassando menos recursos para a instituição, seja escolhendo um ministro da Justiça que desse menos liberdade de atuação a órgãos como a Polícia Federal e o Ministério Público.
Essa tese também encontra entusiastas dentro do PSDB, especialmente na ala mais próxima do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
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