- Folha de S. Paulo
O triênio da recessão de Dilma Rousseff está perto de ser o segundo pior da República. Pelas previsões para 2016, já é. A novidade deste janeiro são as primeiras estimativas mais razoáveis de regressão econômica também em 2017. Quatro anos de regressão.
Dada a mediana das previsões de uma centena de economistas do setor privado para o PIB de 2014 a 2016, o PIB per capita deve encolher 8,8%, mais que no desastre de Collor (1990-1992). Ficará atrás apenas do desastre do final da ditadura militar (1981-1983), quando a baixa foi de 12,1%.
Não há sinal de tumulto social. Pode ser assim porque o país é bem menos pobre que no início dos anos 1990, e a selvageria social brasileira é menor. Não há, porém, relação certa de causa e efeito entre crise e revolta. Vamos arriscar?
Ontem, os economistas do Itaú soltaram uma revisão geral de cenário, na qual estimam crescimento zero em 2017, ante o 1% da mediana da projeção da centena de economistas recolhida semanalmente pelo BC.
Mais relevante, estimam que a taxa nacional de desemprego vai a 13% no final deste 2016 e a quase 14% no final de 2017. No final de 2014, estava em 7%.
A renda média do trabalhador começou a cair apenas em outubro, dado disponível mais recente. Os salários afundarão, porém, caso se confirme essa âncora dos infernos, desemprego indo a 13%.
Há tempo de mudar essa desgraça? O ano nasceu curto.
Assim que o grosso da tigrada política voltar, remonta-se o circo do impeachment até abril. Da metade do ano para o final, tem Olimpíada e eleições municipais. Afora reviravoltas políticas operísticas, há pouco tempo para um acordo político-econômico que faça um remendo maior, que dirá para o começo de um acerto sensato e civilizado dessa lambança terrível em que vivemos.
Apesar da recessão quase recorde na República, medalha de prata, o BC deve aumentar os juros, caso siga a receita que se deu desde meados do ano passado, pelo menos.
A inflação mais resistente do que o estimado corroeu a taxa de juro real (os juros não subiram, na prática, tanto quanto o BC parecia esperar). A expectativa de inflação sobe ainda, começando a se aproximar do teto da meta em 2017. Logo, se o BC seguir os seus sermões, subiria os juros apenas por isso.
Além do mais, o Banco Central em tese é a última "âncora" da política econômica. Quase tudo o mais desmorona ou vive descrédito, indicadores econômicos essenciais ou esperanças de reforma. Por exemplo, o governo prevê superavit primário de 0,5% do PIB, mas a praça do mercado chuta deficit de 1% do PIB neste ano. Com taxas de juros nas alturas, o deficit nominal (inclui a conta de juros) permanecerá nas cercanias de 10% do PIB, uma situação de guerra ou depressão. Assim, a dívida pública continuará a subir, sem limite, para um nível desastroso.
Neste país atolado em lamas diversas, o Banco Central decide amanhã se: 1) Aumenta a taxa de juros e contribui para promover ainda mais arrocho, dando um rumo dos infernos para a política econômica, que não tem norte algum, no momento; 2) Não aumenta a taxa de juros e elimina a última aparência de que haveria alguma política econômica, uma espécie de batismo oficial de barco à deriva.
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