• O ex-presidente não desistiu, mas está atento ao que vier
- Valor Econômico
O ex-presidente Lula começou a pensar objetivamente na impossibilidade de candidatar-se a presidente e passou também a tratar das alternativas que tem o PT. Em conversa há uma semana com um amigo não político, e por isso acredita-se que se despiu do jogo, introduziu um novo nome do seu partido no elenco da sucessão presidencial, o novo preferido: Fernando Pimentel. Comentou que continuam no jogo outros nomes, caso não venha mesmo a ser candidato, o que se tornou mais nítido após a intensificação das suspeitas contra ele e sua família de envolvimento em irregularidades nas operações Zelotes e Lava-Jato. E parece realmente estar guardando lugar para os petistas não se engalfinharem precocemente.
Nesse quadro de nomes ainda possíveis estão com lugar permanente o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, se vier a ser reeleito; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem ensaiado uma volta à cena, mesmo com uma administração burocrática, no automático, no Ministério da Educação; e o ministro chefe da Casa Civil, Jaques Wagner.
Wagner é quem está se preparando há mais tempo e quem tem melhor posição de lançamento.
O ex-presidente Lula, porém, surpreendeu seu interlocutor ao omitir os candidatos conhecidos e dizer, com convicção e voz baixa, que Fernando Pimentel é o melhor candidato neste momento.
À lembrança de que, tal como Mercadante e Wagner, Pimentel também tem em seu portfólio denúncia de comprometimento com irregularidades, os adeptos do novo candidato chamam à realidade o fato de que é a mulher dele, e não ele, quem mereceu inclusão em investigação da Operação Acrônimo. E, mais do que Wagner, que tem origem política em um colégio eleitoral também forte, Pimentel tem um apoio respeitável em Minas Gerais. Ressalta-se, ainda, uma vantagem do governador de Minas: "Não tem cara nem o discurso batido do PT." É um político petista considerado representante da elite. Pronto, está feito o novo candidato de Lula para concorrer com tucanos e pemedebistas em igualdade de imagem.
A presidente Dilma, porém, pode até apoiar Pimentel, a quem foi ligada no início do governo, mas sua preferência deve recair sobre Mercadante.
Nas avaliações que são feitas sobre o desempenho do governo, Mercadante continua sendo o preferido da presidente. Quem acompanha de perto a administração revela que, quando ela quer informações sobre o PT, chama Jaques Wagner; quando quer informações sobre aliados, especialmente o PMDB, chama Aldo Rebelo; e quando quer agir, governar, tomar decisões e providências, chama dois ministros de sua absoluta confiança: José Eduardo Cardozo e Aloizio Mercadante.
Ela teria outras escolhas, há ministros bem avaliados no governo tanto interna quanto externamente. Armando Monteiro, o ministro do PTB, por exemplo, a quem foi destinada a área de Desenvolvimento, calcanhar de aquiles do governo e cerne de sua política econômica, é considerado um dos melhores e mais fortes ministros. Foi cogitado para substituir Joaquim Levy por sugestão do mercado financeiro, que o tem em alta conta de eficiência. Do lado do governo, chegou a realmente ser sondado para ministro da Fazenda, ficou à espera de definição, mas Dilma resolveu dar o posto ao PT.
A eficiência da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, não é contestada, embora se considere que ela perde pontos pelo temperamento. Nelson Barbosa é um funcionário correto, representou bem o PT na economia com a saída de Guido Mantega, é respeitado mas não é crível, está verbalizando ideias que combateu desde sempre e a qualquer momento pode ser desmentido, ou se desmentir.
Nenhum desses, porém, entrou na lista de Lula. Cuja candidatura depende mais da criação de um antídoto para as sucessivas revelações de operações anti-corrupção que minam sua imagem do que de sua vontade. Por via das dúvidas, prepara-se para o pior.
Políticos ligados ao presidente Lula não têm feito segredo, ao contrário, até espalham, que ele está insatisfeito com o constrangimento da presidente Dilma em defendê-lo das denúncias nas operações de investigação de corrupção no seu governo.
Não foi só agora, porém, que a presidente faz que não é com ela. Não tem se manifestado a favor de ninguém, e quando se pede a proteção do presidente no cargo, não se sabe muito bem, publicamente, o que se quer. A hipótese é que seja clemência da Polícia Federal, sobre a qual tem ascendência o ministro da Justiça do governo em vigor. Lula evita verbalizar cobranças, mas seus filhos estão furiosos. E a irritação tem aumentado.
No dia 27 de outubro, Lula fez 70 anos e organizaram pra ele um churrasco na piscina do Instituto Lula. Na véspera, dia 26 de outubro, a Polícia Federal havia deflagrado uma nova etapa da Operação Zelotes, que teve como alvo a empresa de marketing esportivo de Luís Cláudio Lula da Silva, filho caçula de Lula. A ação acirrou os ânimos e o clima estava pesado entre Lula e Dilma. No Palácio do Planalto, ninguém confirmava se ela iria ou não para a festa. No início da tarde do dia 27, Dilma acabou com o suspense e confirmou presença. Foi, acompanhada apenas pelo ministro Jaques Wagner.
Um convidado comentou depois que os dois fingiram bem, mas a mulher do ex-presidente Marisa Letícia, e os filhos presentes, não disfarçaram os olhares com que fulminaram Dilma.
Assessor da presidente admite que os filhos de Lula estão mesmo cobrando solidariedade, mas no Palácio do Planalto o que alimenta a despreocupação com apelos é a certeza absoluta que, se Lula estivesse no lugar de Dilma, e ela fosse a acusada, ele estaria agindo exatamente da mesma forma. Como agiu com José Dirceu (mensalão e Lava-Jato), João Vaccari (Lava-Jato), Edinho Silva (Lava-Jato), Delúbio Soares (mensalão), Aloizio Mercadante (aloprados), e tantos outros petistas que já desfilaram nas sucessivas operações da PF.
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