• Não me lembro de outro período da história contemporânea reunindo tantas crises: política, econômica, moral, ambiental e, a mais grave de todas, a da saúde pública
- O Globo
É impossível olhar para 2016 sem pessimismo. Se o ano no Brasil costuma começar depois do carnaval, como se diz, ele chega nesta Quarta- Feira de Cinzas carregado de maus presságios. Sei que não se recomenda fazer previsões sombrias, porque parece que se está torcendo para que elas se confirmem e a gente tenha razão para poder se vangloriar depois:
“Eu não disse?” Por outro lado, aprendi na infância que pensar no pior é uma forma supersticiosa de esconjurá-lo, de evitar que ele aconteça. De qualquer maneira, é impossível olhar para 2016 sem pessimismo ou pelo menos sem apreensão. Não me lembro de outro período da história contemporânea reunindo tantas crises ao mesmo tempo: política, econômica, moral, ambiental e, a mais grave de todas, a da saúde pública, agravada pela guerra até agora perdida contra esse inimigo quase invisível, o Aedes aegypti. Esse mosquito está espalhando em escala de calamidade o vírus da dengue, chicungunha e desse terrível zika, suspeito de causar a microcefalia, uma má- formação que impede na gravidez o crescimento do cérebro do bebê e que já fez cerca de cinco mil casos no ano passado. Só na semana que precedeu o carnaval, a epidemia cresceu quase 50% no país.
A gravidade desse quadro, no entanto, não pode servir de álibi para o governo se descuidar das demais crises, minimizando a importância delas. E nem pode permitir que uma visão cínica use a tragédia para desviar o foco das outras preocupações nacionais e anestesiar a indignação popular, sob a alegação: o que são a recessão econômica e os escândalos políticos quando milhares de crianças estão correndo o risco de adquirir o mal?
Há perguntas que ainda estão aguardando respostas. Dilma resistirá até o fim? A CPMF vai voltar mesmo? Quantas contas lá fora, além da nona, faltam ser descobertas para que Eduardo Cunha deixe de ser o presidente da Câmara, pelo menos isso? E o triplex, é ou não é de Lula? E o sítio em Atibaia? Quem pagou a reforma, a OAS ou a Odebrecht? Se o resultado final for comprovadamente sim, trata-se do escândalo que faltava. Se for não, é a desmoralização das investigações e o surgimento de um candidato imbatível em 2018. Outra questão é saber quem vai ajudar José Dirceu, coitado, que se queixou ao juiz Sérgio Moro de “dificuldades financeiras”, apesar dos R$ 40 milhões que recebeu em consultorias, e declarou serem “irrisórios” os R$ 120 mil mensais que recebia para emprestar seu nome a empresas investigadas pela Lava- Jato? E tudo isso sem falar no Rio de Janeiro, falido, tendo que pedir emprestado para pagar salários e com previsão de déficit de R$ 20 bilhões.
Quer dizer, o ano promete.
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