• Oposicionistas avaliam que senador se firmou como ‘ponta de lança’ da negociação; deputados veem ‘precipitação’
Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo
A entrevista do senador José Serra (PSDB-SP) ao Estado publicada nesta segunda-feira, 21, na qual ele afirmou que o PSDB será chamado e terá “obrigação” de participar de um eventual governo Michel Temer (PMDB), causou reações imediatas entre as alas tucanas e dentro dos demais partidos de oposição.
Em caráter reservado, lideranças do PSDB próximas ao tucano avaliam que Serra despontou como “ponta de lança” da legenda na construção de um eventual governo de coalizão a ser liderado pelo atual vice-presidente peemedebista.
Deputados e integrantes da cúpula do partido, no entanto, reclamam que ele foi “precipitado” e não consultou nenhuma instância partidária antes de se pronunciar publicamente.
Os tucanos convergem na avaliação que as declarações ocorrem em um momento de fragilidade da liderança do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que está acuado pelas citação de seu nome na delação premiada do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS).
Líderes de outros partidos compartilham de análise semelhante. “O Serra é uma figura respeitada e tem uma boa relação com o PMDB do Senado, coisa que o Aécio não tem”, diz o deputado Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade e líder da Força Sindical. Segundo ele, o senador paulista se colocou como o “principal articulador” da oposição a um eventual governo do PMDB, e isso causou “ciumeira” no PSDB.
“O PSDB tem que ser o protagonista de um eventual governo Temer. O Serra tem uma grande capacidade de articulação, mas as conversas não são apenas com ele”, afirma o deputado Roberto Freire (SP), presidente do PPS.
Protagonismo. A entrevista de Serra foi alvo de críticas da bancada do PSDB na Câmara. Parlamentares reclamam que o senador paulista antes resistia ao impeachment e agora tenta assumir o protagonismo do processo no lugar dos deputados. Serra, no entanto, vem defendendo, inclusive em artigos, o afastamento da presidente.
Outra reclamação da bancada foi que o partido ainda não discutiu internamente a participação em um eventual governo Temer e não há consenso interno na sigla sobre esse tema. “A opinião do Serra é sempre muito respeitada, mas o PSDB não tem ainda esse nível de expectativa sobre a participação no governo”, afirma o deputado federal Silvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB.
A ponderação é a mesma feita por aliados diretos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que pleiteia a vaga de candidato à Presidência em 2018.
Nota. O vice-presidente Michel Temer afirmounesta segunda, por meio de nota, que não discute cenários políticos para uma eventual saída da presidente Dilma Rousseff, que é alvo de processo de impeachment na Câmara dos Deputados.
“Michel Temer não tem porta-voz, não discute cenários políticos para futuro governo e não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre sua vida pública.
Quando tiver que anunciar algum posicionamento, ele mesmo o fará, sem intermediários”, diz a nota, enviada pela assessoria do vice-presidente.
O texto assinado pela assessoria de Temer não cita em nenhum momento o nome do senador José Serra. Ambos, mantém uma boa relação de amizade. Na entrevista ao Estado, o tucano aconselhou Temer a descartar a reeleição e disse não acreditar que o afastamento da presidente se dará pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por uma questão de tempo. “A crise se aprofunda exponencialmente a cada semana, a cada dia. O Michel Temer assumindo, eu diria que deveria se batalhar para se formar um governo de união.” / Colaborou Carla Araújo
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