• Sem a garantia de que vai conseguir assumir a chefia da Casa Civil, Lula age como ministro da pasta e tenta segurar o PMDB no governo
Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
/ BRASÍLIA - Mesmo sem saber se conseguirá virar ministro da Casa Civil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já atua nos bastidores como articulador político do governo. A prioridade de Lula é segurar o PMDB na equipe, mas há também uma estratégia para impedir a debandada de partidos menores, pois o Palácio do Planalto foi informado de que existem aliados dispostos a trair a presidente Dilma Rousseff na Comissão Especial do impeachment, instalada na Câmara.
Em jantar realizado nesta segunda, no Palácio da Alvorada, Dilma e Lula conversaram sobre o PMDB e acertaram uma ofensiva para convencer os parlamentares indecisos, uma vez que, pela contabilidade oficial, o governo tem hoje 33 dos 65 votos da comissão, um placar muito apertado. Distribuição de cargos de segundo e terceiro escalões, além de emendas parlamentares, está no cardápio das alternativas para enfrentar a crise.
Lula também vai se encontrar hoje com o vice-presidente Michel Temer, que comanda o PMDB. O ex-presidente acha que Dilma errou ao deixar Temer isolado e tenta uma aproximação para que ele ganhe protagonismo no governo, mas boa parte do PMDB define a iniciativa como “tardia”.
No quarto andar do Planalto, o gabinete da Casa Civil – até a semana passada ocupado por Jaques Wagner – foi todo esvaziado ontem para receber Lula, embora ninguém saiba se ele efetivamente ocupará a pasta.
Tribunal. Alvo da Operação Lava Jato, o ex-presidente teve sua nomeação suspensa na sexta-feira pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. O governo recorreu da decisão, mas o desfecho da batalha jurídica é imprevisível. Até a noite de ontem, Lula não havia desistido de assumir a Casa Civil, embora dissesse que não precisava do cargo para ajudar a presidente.
Com Wagner já transferido para a chefia de gabinete de Dilma, no terceiro andar, o comando da Casa Civil está com a secretária executiva Eva Chiavon.
Sob intensa pressão política, Dilma repete para interlocutores que não renunciará sob nenhuma hipótese. Na guerra contra o impeachment, o governo decidiu partir para o “tudo ou nada” e o clima no Planalto é o de lutar “até o último minuto”.
Antecipada para o próximo dia 29, a reunião do Diretório Nacional do PMDB é considerada decisiva para o futuro do governo. É por isso que Lula, mesmo combalido, corre contra o tempo para impedir a saída do principal aliado, que hoje comanda sete ministérios. O diagnóstico do Planalto é que, se o PMDB cumprir a promessa de divórcio, a derrocada do governo será iminente.
O PRB já deixou a aliança e o PSB, antes independente, passou para a oposição. Agora, setores do PSD, partido que dirige o Ministério das Cidades, e do PP, hoje no controle de Integração Nacional, pressionam as cúpulas das legendas pelo rompimento com o governo.
“Você acha que o Lula tem condições de construir algum pacto de governabilidade depois daquelas gravações da Polícia Federal que vieram a público?”, perguntou um dirigente do PMDB próximo de Temer. “Ele não tem como ajudar a Dilma nem oferecendo cargos nem emendas. Nós não queremos isso.”
Estratégia. Sob a orientação de Lula, a presidente vai se reunir com todas as bancadas na Câmara e também conversará com deputados e senadores da oposição. Recentemente, Dilma procurou o ex-senador José Sarney (PMDB-AP), acompanhada do ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Ela pediu a Sarney que a ajudasse a retomar a relação com o PMDB.
Além de tentar barrar o impeachment, o “Plano Lula”, como foi batizado no Planalto, também tem um protocolo econômico. A dirigentes do PT o ex-presidente disse que, para salvar o mandato de Dilma, será preciso afrouxar o ajuste fiscal e “pôr dinheiro na mão do pobre”.
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