• Depois de divulgação de conversas gravadas, petista teve de viajar a Brasília para tratar pessoalmente de articulação contra impeachment de Dilma
Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut e Eduardo Barretto - O Globo
BRASÍLIA - Diante da impossibilidade de comandar a articulação política longe de Brasília, como foi aconselhado por amigos, o ex-presidente Lula resolveu ir para a capital federal ontem. Aliados comentam que, se não fosse, ele não conseguiria levar a cabo a missão de arrebanhar votos contra o impeachment, o que envolve longas conversas. O motivo é pitoresco: depois da divulgação de ligações telefônicas de Lula, ninguém mais se dispõe a falar com ele pelo telefone.
Apesar dos apelos para que ficasse longe do Planalto para evitar interpretações de que estaria desafiando decisão de Gilmar Mendes, do Supremo, que suspendeu sua nomeação na Casa Civil, Lula foi convencido a ir a Brasília. A tendência é que despache do hotel onde está hospedado e mantenha reuniões no Alvorada, residência oficial da Presidência, como ocorreu ontem à noite, e na residência de políticos. Ontem, ele chegou no fim do dia e foi direto para o hotel onde costuma se hospedar na capital, a poucos metros do Alvorada, onde jantou com Dilma à noite.
Interlocutores do petista contam que ele deve ficar a semana toda em Brasília, quando manterá reuniões políticas. Enquanto isso, aguarda o desenrolar de seu destino político, no Supremo Tribunal Federal (STF). A vinda dele foi cercada de mistério. Ao chegar ao hotel, o carro que o levava deixou outro carro passar na frente, dificultando o registro de imagens. Ele ficou cerca de uma hora no local, esperando o chamado da presidente para o Alvorada. Ao partir para o encontro de Dilma, o ex-presidente procurou se ocultar dentro do carro, colocando a mão sobre o rosto.
O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), foi um dos que disseram a Lula que ele precisava comandar pessoalmente as negociações para conter o processo de impeachment na Câmara. O líder do governo no Senado, Humberto Costa ( PT- PE), também defendeu a ida de Lula a Brasília, para conversar diretamente com os integrantes da comissão do impeachment. Nos bastidores, petistas brincavam que “falar com Lula por telefone não dá mais”.
Na Casa Civil, os trabalhos foram tocados pela secretária- executiva, Eva Maria Chiavon, que atendia como ministra da Casa Civil substituta. Diante da vacância do chefe da pasta, o advogado- geral da União, José Eduardo Cardozo, passou boa parte da tarde em reuniões no 4 º andar do Planalto, onde Lula ficará caso assuma definitivamente o cargo. Cardozo se reuniu com o subchefe de Assuntos Jurídicos, Rodrigo Messias, escalado por Dilma para levar a Lula o polêmico termo de posse para que ele assinasse antes de embarcar para São Paulo, na última quinta-feira.
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