Na ONU, a presidente Dilma evitou falar em golpe. Mais tarde, com jornalistas estrangeiros, voltou ao tema.
Dilma fala em ‘crise’ na ONU e em ‘golpe’ a jornalistas
• Presidente critica ministros do STF que contestaram tese de ilegalidade no processo
Henrique Gomes Batista - O Globo
A presidente Dilma Rousseff usou ontem dois tons diferentes para se referir à crise que enfrenta no Brasil. Na ONU, de forma mais amena, ressaltou o momento grave pelo qual o país está passando, mas, ao contrário das expectativas, não usou a palavra “golpe”. Já à imprensa, Dilma criticou os ministros do Supremo Tribunal Federal que deram opinião favorável sobre a legalidade do processo de impeachment e refutaram a tese de “golpe” da presidente. Contundente, afirmou a jornalistas internacionais que recorrerá ao Mercosul e à Unasul para que, segundo ela, “o processo democrático” seja garantido. Ela disse respeitar os que propõe antecipação de eleições e voltou a criticar indiretamente o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
— Não é a opinião do Supremo. É a de três ministros. São apenas três ministros. E ministros que não deveriam dar opinião porque vão me julgar — criticou Dilma, referindo-se às ponderações de Celso de Mello, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que afirmaram, na quarta-feira, que o processo de impeachment é constitucional.
O anúncio sobre a viagem de Dilma aos Estados Unidos foi antecipado pela colunista Míriam Leitão, do GLOBO. À agência de notícias Reuters, a presidente Dilma denunciou seu impeachment como um “golpe”, e disse que iria ao Mercosul para que o Brasil seja suspenso do bloco:
— Gostaria de apelar à cláusula democrática se houve, a partir de agora, uma ruptura do que eu considero o processo democrático.
O Mercosul tem a chamada cláusula democrática, que pode ser acionada caso um governo eleito em qualquer um dos Estados- membros seja derrubado, como ocorreu com o Paraguai, em 2012. Isto implica na suspensão das reuniões e pode levar o país a perder benefícios comerciais.
— Está em curso no Brasil um golpe. Então eu gostaria que o Mercosul e a Unasul olhassem esse processo — disse aos repórteres brasileiros.
Em frente à embaixada brasileira, dois protestos, um a favor e outro contra o impeachment, cada um com cerca de 20 pessoas, fizeram barulho para chamar a atenção das autoridades brasileiras. Dilma disse que vai “se esforçar muito” para, em sua defesa no Senado, evitar criticas às propostas de novas eleições.
— Uma coisa é eleição direta, com voto secreto das pessoas, com o povo brasileiro participando. Agora, tem que ter me dado o direito de defender meu mandato — disse, para alfinetar em seguida:
— Quem assumirá os destinos do país? Pessoas ilegítimas, que não tiveram um voto para presidente?
Quem tem acusação de lavagem de dinheiro, de conta no exterior, de processo de corrupção? Não tem contra mim nenhuma acusação de corrupção.
‘Dói, dói muito’
Ela afirmou ainda que não falou sobre o processo de impeachment na ONU porque “não era o momento”. No discurso em plenário, falou sobre os avanços climáticos no mundo, nos quais o Brasil teve um papel fundamental. E finalizou:
— Não posso concluir a minha intervenção sem mencionar o momento grave que o Brasil está passando. Não tenho dúvidas de que nosso povo será capaz de evitar quaisquer retrocessos.
A presidente também criticou a imprensa brasileira por ter noticiado que ela falaria sobre a crise política, sem que, segundo ela, isso fosse verdade. Dilma mostrouse emotiva ao falar sobre como a família dela encara o processo:
— Eu não falo sobre a minha família. Acredito que eles estão sofrendo. Você imagina como sua família estaria se sentindo. Então, não posso falar, porque dói, dói muito.
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