• Ao NYT, Temer reclama de Dilma e diz que não quer que pareça que conspira para assumir
- O Globo
E m mais uma contraofensiva ao discurso de golpe adotado pela presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer voltou a argumentar, em entrevista a um jornal estrangeiro, que o processo de impeachment contra a presidente está previsto na Constituição. Ao “The New York Times”, o vice negou que o processo se trata de um golpe de Estado. “Não quero que pareça que conspiro para assumir”, afirmou.
Temer disse ainda que esteve no “ostracismo absoluto” nos últimos quatro anos e ressaltou que nunca foi amigo de Dilma, com quem falou pela última vez em janeiro.
“Nós não somos amigos porque ela não se considerava minha amiga”, declarou o vice.
Na entrevista de 30 minutos concedida ao jornal americano na última quinta-feira e publicada na edição impressa de ontem — antes do discurso de Dilma na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) —, Temer também se mostrou preocupado com a possibilidade de a presidente abordar no evento a crise política no Brasil. Dilma, no entanto, não utilizou as palavras “golpe” e “impeachment” em seu pronunciamento, mas usou parte do seu discurso para citar o “grave momento que vive o Brasil”.
O “The New York Times” lembrou que o vice, que assumirá a Presidência caso o impeachment consiga maioria no Senado, e importantes aliados dele enfrentam acusações de envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobras, como consta na delação do senador Delcídio Amaral (sem partido - MS). Ao jornal, Temer se disse inocente e argumentou que suas ligações com executivos envolvidos no esquema investigado pela Lava-Jato se deveram às suas responsabilidades burocráticas como presidente do PMDB, partido que integrou a coalizão do governo petista.
Sobre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é réu no Supremo Tribunal Federal e vem sendo julgado no Conselho de Ética da Casa, Temer disse que não pediria para ele renunciar. “Esse é um assunto para o Supremo Tribunal Federal decidir”, afirmou.
Vice cita JK e Roosevelt
Temer apontou o desemprego como o problema mais urgente no país, no momento. O vice-presidente disse também que pretende criar um “governo de otimismo”. Ele citou como fontes de inspiração o expresidente Juscelino Kubitschek e os ex-presidentes americanos Theodore e Franklin Roosevelt, enfatizando que planeja se aproximar dos EUA.
O jornal destacou que Temer enfrentará, simultaneamente, a pior crise econômica das últimas décadas, uma epidemia de zika, discórdia política e os Jogos Olímpicos do Rio. Também ressaltou que Temer, segundo pesquisa realizada pelo “Datafolha”, teria apenas 2% das intenções de voto, se houvesse eleições.
O vice- presidente, que ocupa interinamente a Presidência em razão da viagem de Dilma aos Estados Unidos, afirmou ontem que as entrevistas que deu à imprensa internacional foram para defender o Brasil de “desqualificação”.
— Houve manifestações em relação à imprensa internacional, especialmente pretendendo desqualificar a minha posição. Aí não é a coisa do vice-presidente. É uma coisa do Brasil. Acho que o Brasil não merece desqualificação, por meio de eventuais agressões à Vice Presidência — declarou Temer, ao deixar o Palácio do Planalto pela tarde.
Sobre o discurso comedido que a presidente fez em Nova York, na cerimônia de assinatura do acordo sobre mudanças climáticas, no qual citou rapidamente o “grave momento” nacional e não mencionou “golpe”, Temer avaliou que foi “nada mais do que adequado”.
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