• Serra volta a defender participação do partido, e Aécio avalia que discussão de cargos agora é irrelevante
Tiago Dantas, Maria Lima, Cristiane Jungblut e Mariana Sanches - O Globo
- SÃO PAULO E BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dito a interlocutores que não se opõe à participação do PSDB em um eventual governo do vice- presidente Michel Temer. Por outro lado, FH não tem incentivado a indicação de nomes do partido para ministérios. O PSDB deve decidir, na próxima semana, se participa diretamente de um novo governo ou se apenas dá apoio a Temer em votações no Congresso.
Políticos próximos ao ex- presidente acham pouco provável que ele tente influenciar publicamente a decisão do partido e dizem que FH está mais interessado em dar conselhos sobre como deve ser a transição caso prospere o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Nas últimas semanas, ele tem sido procurado por aliados de Temer para debater o assunto.
O senador José Serra ( SP), que deve voltar a se reunir com Temer ainda esta semana, voltou a defender a ocupação de cargos e considerou “sem sentido” a proposta de alguns dirigentes do PSDB de que tucanos que queiram assumir cargos num eventual governo de transição se licenciem do partido.
— A licença é uma posição sem sentido. Uma coisa é certa: vou tratar de apoiar o governo para que ele dê certo. Se ele assumir, temos o dever de ajudar o Brasil. O PSDB deve apresentar os pontos mínimos ao vice- presidente Temer. E, se Temer aceitar, deve, sim, participar do governo. Seria primeiro um entendimento em torno de ideias — defendeu Serra.
Aécio rejeita “patrulhamento”
O vice- presidente do PSDB, Alberto Goldman (SP), foi além e afirmou que o partido tem o dever de integrar um novo governo:
— O PSDB esteve à frente de todo o processo ( de impeachment). A partir do momento que ele é aceito, é natural que o PSDB participe do governo. Não podemos nos pautar por interesses de lideranças do partido nas eleições de 2018. Não tem cabimento se pautar por processo eleitoral — afirmou Goldman, que completou: — Claro que não vamos participar do governo sem colocar pautas mínimas, mas não participar me parece contrassenso.
Já o presidente do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), reuniu- se ontem com os líderes do partido no Senado, Cássio Cunha Lima ( PB), e da Câmara, Antônio Imbassahy ( BA), e definiu o discurso de que discussão de cargo agora é irrelevante, e que o foco é negociar com Temer um documento programático, com oito a 10 temas, baseado no tripé “moral, econômico e social”.
— Vamos resolver isso com calma, discutindo o assunto de forma institucional na hora certa, dando tempo ao tempo e deixando a poeira baixar — respondeu Aécio ao ser questionado sobre a defesa feita por Serra e pelo senador Aloysio Nunes Ferreira ( PSDB- SP) da participação efetiva no futuro governo Temer.
Sobre as críticas de que o PSDB estaria fugindo à responsabilidade de colaborar com o governo de transição depois de apoiar o impeachment, Aécio disse que não aceita “patrulhamento” porque foi o partido que alertou sobre as “pedaladas” e propôs a ação de impugnação da chapa Dilma- Temer ao Tribunal Superior Eleitoral.
A interlocutores, Serra não esconde seu desconforto com a ação de Aécio e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para minar sua possibilidade de ocupar uma posição de “força” no futuro governo e embaralhar o jogo da sucessão presidencial em 2018.
Apesar do desejo de ter o PSDB em um eventual governo seu, Temer se preocupa com o que aliados apelidaram de “efeito FHC”: ser eclipsado por um ministro da Fazenda capaz de gerar soluções a ponto de se impor como nome à sucessão e retirar do PMDB o protagonismo na chapa presidencial de 2018. Em 1992, no governo Itamar Franco, a estabilização da moeda e a queda da inflação com o Plano Real cacifaram Fernando Henrique a se eleger em 1994.
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