Catia Seabra – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Ao discursar para dirigentes de partidos de esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva previu, nesta segunda-feira (25), "muita luta" no Brasil como resposta à abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O prognóstico foi feito durante seminário da Aliança Progressista, rede que reuniu em São Paulo representantes de vinte partidos de 17 países.
"Aqui no Brasil vai ter muita luta. Esperem que viveremos momentos de combate democrático", disse Lula.
A afirmação acontece, no entanto, num momento em que os movimentos de esquerda –alicerce da defesa de Dilma– enfrentam uma fadiga material e humana.
Após um ano de manifestações contra o impeachment, dirigentes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) dão como remotas as chances de realização de uma greve geral no país. "Não estamos discutindo paralisação", disse o secretário de Relações Internacionais da CUT.
Sindicalistas admitem até esgotamento físico. A presidente da Apeosp (sindicato dos professores de São Paulo), Maria Izabel Azevedo Noronha, diz que a intensidade de atividades é forte. "É difícil, mas a gente tem que aguentar."
Coordenador do MST (Movimento dos Sem Terra), Gilmar Mauro afirma que uma dificuldade está no deslocamento dos militantes."Vamos na base da vaquinha."
Um dirigente do MST aponta um entrave político para mobilizações: o ajuste fiscal. Presidente da CUT, Vagner Freitas admite que "ajudaria" se Dilma anunciasse medidas em defesa do trabalhador.
A CUT convidou Dilma e Lula para o ato de 1º de Maio no Vale do Anhangabaú.
"Exigimos a presença do Lula e da Dilma. Espero que a presidenta se aproprie desse espaço dizendo que vai resistir e que faça anúncios aos trabalhadores."
Além das dificuldades, Lula tem reconhecido como consumado o impeachment da presidente.
Segundo interlocutores, o ex-presidente sugere que Dilma viaje pelo país para se defender, caso o Senado dê seguimento ao processo.
Certo do risco de derrota, Lula busca apoio externo. Rouco, ele pediu que o ex-ministro Luiz Dulci lesse aos dirigentes partidário um discurso em que chamou de "corruptos notórios" e "uma verdadeira quadrilha" os apoiadores do impeachment no Congresso. A leitura durou 16 minutos.
"Houve um pelotão de fuzilamento comandando pelo que há de mais repugnante no universo da política", acusou Lula.
E acrescentou: "Uma aliança oportunista, entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa implantou a agenda do caos no país".
Ao assumir o microfone, o ex-presidente afirmou que o PT vai resistir: "Eles que se preparem, se pensam que vão destruir o PT".
Lula afirmou ainda que o impeachment é o maior ato de ilegalidade feito desde a revolução de 1964.
Rui Falcão
Na abertura do seminário, o presidente do PT, Rui Falcão, seguiu a estratégia de denunciar à comunidade internacional o que chamam de golpe. Ele chamou o vice-presidente Michel Temer (PMDB) de traidor e criticou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"A presidenta Dilma não cometeu crime algum. Não pesa contra ela qualquer denúncia de corrupção ou de recebimento de propina. Ao contrário de seu principal algoz, o presidente da Câmara dos Deputados que conduziu a primeira fase do processo, o deputado Eduardo Cunha, réu no Supremo Tribunal Federal pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de bens e evasão de divisas", atacou.
Falcão chamou Temer de comandante do golpe: "Comanda o golpe o vice-presidente da República, que registra 1% de intenção de voto, caso passasse pelo teste das urnas. E que acumula nas pesquisas uma rejeição próxima de 80%. Traidor de sua colega de chapa, contra a qual conspira abertamente, Temer já anunciou um programa antipopular, de supressão de direitos civis e sociais, de privatizações e de entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros", acusou Falcão.
Grupos a favor e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff estiveram na entrada do hotel Maksoud Plaza, que sedia o seminário.
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