- O Estado de S. Paulo
Foi uma coincidência infeliz. Na sexta-feira, a cúpula do PSDB decidiu abandonar a cassação de Dilma Rousseff e Michel Temer via Justiça eleitoral. Em vez da saída TSE e da eleição que se seguiria, preferiu se concentrar no impeachment da titular e em tirar o vice do anexo. Um dia depois, o Datafolha confirmou que Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra estão andando para trás na corrida presidencial – e rapidamente. Se havia dúvida sobre a razão da mudança tática tucana, ela durou 24 horas.
Reconheça-se, a escolha do PSDB não era fácil. Entre disputar uma eleição na qual Lula e Marina saem na frente e os presidenciáveis tucanos só caem ou, por outro lado, ser fiador de um governo que começa com 58% da população torcendo pelo seu fim, o PSDB uniu-se pela segunda opção. Pôs um pé fora, porém, ao dizer que só discutirá cargos com Temer após o eventual impeachment. Pós-Datafolha, o pé virou perna.
A diferença entre Temer e Dilma em tamanho da torcida por seu afastamento está na margem de erro: 58% a 61%. Se a petista fosse afastada hoje pelo Congresso, seu sucessor começaria a governar tão impopular quanto ela. Embarcar nesse novo governo implica disposição e capacidade para mudar a cabeça do eleitor. Mas quem teria os meios para tanto seria o PMDB. O PSDB seria parceiro de luxo, com uma pasta social como a Saúde, mas longe dos centros decisórios do Planalto e da Fazenda.
Antes mesmo de se associar a um eventual governo Temer, o PSDB já está sofrendo eleitoralmente. Desde dezembro, Aécio perdeu 10 pontos, Alckmin perdeu cinco, e Serra, quatro. Para quem? Para Jair Bolsonaro, principalmente. A hostilidade contra Aécio e Alckmin no ato anti-Dilma em São Paulo indicara que parte dos mais engajados pelo impeachment não se identifica com tucanos. No Datafolha, tal parcela prefere o defensor da ditadura, cuja intenção de voto vai de 6% a 8%, conforme o cenário.
É a primeira vez desde a redemocratização que esse segmento encontra um candidato que vocalize sua agenda política. Agora que saiu à rua, não desistirá de se fazer escutar em uma campanha presidencial. Por isso, é um eleitor que o candidato tucano, seja quem for, dificilmente conseguirá recuperar.
Em outro lado do espectro político, de um quinto a um quarto dos eleitores enxerga o PSDB de maneira não muito distinta do PT. Hoje, a maioria deles declara voto em Marina, mas, quando Sérgio Moro entra no páreo, por exemplo, aumenta sua dispersão, e uma parte migra para o juiz símbolo da Lava Jato. São eleitores em busca de uma liderança que fuja à polarização tucano-petista.
Finalmente, para complicar a conta tucana, o Datafolha mostrou um Lula ferido, mas vivo eleitoralmente. Com 53% de rejeição (era 57% em março), ele teria muitas dificuldades em um segundo turno se a eleição fosse hoje. Mas, mesmo após todo o desgaste provocado pela Lava Jato, Lula ainda lidera a corrida presidencial com até 22% das intenções de voto. É o único candidato que não perde mais do que um ponto quando se aumenta o número de presidenciáveis. O que lhe sobrou é consolidado.
Mesmo que por desdobramentos da Lava Jato ou por vontade própria Lula ficasse fora da eleição, ele teria cacife para influenciar decisivamente o resultado – desde que ache um nome para apoiar.
Se houvesse eleição presidencial este ano devido à cassação da chapa Dilma/Temer pelo TSE, o PSDB teria Bolsonaro à direita, Marina à esquerda e Lula podendo cacifar a si próprio ou um terceiro. Daí a opção tucana pelo governo Temer.
E tal cenário mudará até 2018? Apenas se houver o impeachment e Temer for um sucesso como presidente. Mas aí ele se tornará candidato à própria sucessão. Logo, não basta mais ao PSDB ser o anti-PT. Ou aprende a vender sonhos ao eleitor, ou não ganhará a Presidência. A força da gravidade deixou de ser tucana.
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