• Deputados da comissão especial recebem todo dia dezenas de e-mails, telefonemas e mensagens de WhatsApp
Isabel Braga, Eduardo Bresciani - O Globo
-BRASÍLIA- A pressão para um posicionamento sobre o impeachment afeta, de forma mais intensa, um grupo de deputados: os que pretendem disputar as eleições municipais deste ano. Na comissão do impeachment, estão nesta situação deputados que até ontem, véspera da votação, ainda se declaravam indefinidos, como é o caso de Valtenir Pereira (PMDB-MT), Bebeto (PSB-BA), Aliel Machado (Rede-PR) e Washington Reis (PMDB-RJ). Hoje é o dia de descer do muro.
Assim como todos os deputados que aparecem como indecisos ou contra o impeachment, os pré-candidatos têm sido bombardeados diariamente com e-mails, telefonemas e mensagens via WhatsApp, ampliando o dilema dos parlamentares. Em sua maioria, as mensagens e os telefonemas pedem para que o deputado vote a favor do impeachment, mas os eleitores contra o impedimento também têm se manifestado. E não se limitam a pressionar os deputados de seus estados. Segundo os deputados, a maioria das mensagens é de São Paulo e de estados do Sul.
Valtenir Pereira mostra o celular pessoal — que foi divulgado nas redes sociais por movimentos pró-impeachment — inundado por mensagens. Muitas são agressivas e intimidatórias, mas há quem tente ganhar o deputado pelo convencimento, tanto a favor quanto contra o impedimento. Numa das mensagens, uma terapeuta de São Paulo tenta convencê-lo da importância do voto a favor do impeachment e, como forma de estimulá-lo, diz que tem familiares no estado, que pensa em mudar para a cidade e que sabe que ele é muito “querido em Campo Grande”.
— Ela erra o meu estado, o Mato Grosso! Campo Grande é Mato Grosso do Sul, e sou pré-candidato a prefeito de Cuiabá. A abordagem foi serena, mas ela nem me conhece! Leio todas as mensagens, mas as pessoas precisam ver que o que está em jogo exige responsabilidade grande dos parlamentares. Não vou tomar uma decisão com visão eleitoreira. Não dá para misturar a questão eleitoral com o impeachment — disse Valtenir.
Além da ação dos militantes a favor e contra o impeachment, os pré-candidatos a prefeito também sofrem pressão de suas bases e de partidos envolvidos na negociação política. Bebeto (PSB), por exemplo, é pré-candidato a prefeito em Ilhéus (BA) e costura uma aliança com PMDB, PSDB e DEM. Parlamentares da oposição afirmam que, caso ele votasse contra o impeachment, poderia ter problemas na sua base eleitoral.
Bebeto reconhece que, a depender do seu voto, “pode ter variação” nas alianças que busca. Acredita, porém, que como as eleições são municipais a realidade da cidade se impõe às questões nacionais. Ele ressalta ainda que na sua cidade há uma divisão total sobre o tema do impeachment.
— Fizeram uma pesquisa aqui sobre o impeachment, e na nossa cidade está meio a meio. Isso se reflete também em outras cidades da Bahia e do Nordeste. Seja qual for a decisão, será polêmica e criticada — diz Bebeto.
O deputado do PSB afirma que continua “indeciso” e que espera o posicionamento oficial do seu partido para anunciar sua decisão. Caso o partido feche questão pelo impeachment, ele deve acompanhar. Na hipótese de não haver uma decisão definitiva da legenda, o deputado faz suspense sobre que rumo tomaria.
— Se eu adianto uma posição, e a Executiva fecha questão, vou ter de seguir o que for adotado lá. Se permanecer que o juízo será de cada deputado, minha decisão pode ser outra. Então, é um momento de temperança, de se distanciar da emoção, julgar o fato como ele é — diz Bebeto.
Outro que vive um grande dilema é o deputado de primeiro mandato Aliel Machado (Rede), que sonha em ser candidato em Ponta Grossa, no Paraná, estado do juiz Sérgio Moro. Apesar de não ser aliado do governo Dilma, ele também não gostaria de contribuir para que Michel Temer assumisse a Presidência. Repete que, para ele, nem Dilma, nem Temer, e que o melhor seria mesmo haver novas eleições. No estado dele, no entanto, a maioria dos eleitores tem se manifestado a favor do impeachment.
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