• Diante desse número, estratégia do governo para não deixar a oposição chegar no seu placar é convencer parlamentares a se ausentarem do plenário no próximo domingo
Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Apesar de continuar oficialmente alarmando que tem garantidos os 172 votos para barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto tem segurança real de apenas algo na casa dos 140 votos, segundo fonte consultada pelo Estado. Às vésperas da votação, o governo permaneceu trabalhando "a todo vapor" não só para angariar votos, mas também para evitar que a oposição consiga os 342 votos. E uma das fortes apostas, nesta reta final, para não deixar a oposição chegar no seu placar é convencer parlamentares a se ausentarem do plenário no próximo domingo, 17. Há um temor com o que está sendo chamado de "onda negativa" contra o governo, que estaria crescendo.
No Planalto, o clima é considerado "crítico" e os números do placar de votação oscilam, a cada hora, para baixo e para cima. Mas o problema, de acordo com um assessor do Palácio, é que o ritmo de definição de votos a favor do impeachment tem sido muito maior do o dos votos contrários. Daí o trabalho de buscar votos no varejo e, caso não obtenha sucesso, pelo menos garantir a ausência do deputado. Na manhã desta quinta-feira, 14, o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), após sair de uma reunião no Alvorada com a presidente Dilma, deixou claro o espírito do governo. "Hoje eles não têm 342 votos. O governo tem quase os '172 não'. Mas ausências ou abstenções caracterizarão, na prática, os 'não 342' votos, porque eles precisam dos 342 sim. Eles não têm e não terão", avisou.
Ao falar do número de votos considerados assegurados contra o impeachment (na casa dos 140), a fonte consultada pelo Estado explicou que neste total não está incluído, por exemplo, o do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ).
Romaria. A quinta-feira foi mais um dia de romaria ao Planalto no período da tarde. Pela manhã, a presidente Dilma Rousseff abriu o Palácio da Alvorada para receber deputados e líderes de vários partidos, com o objetivo de agradecer o apoio deles até agora e pedir continuidade nos trabalhos. Pela manhã, apesar dos problemas enfrentados com PP, PSD e PMDB, além de outras baixas avulsas, o governo comemorava o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter conseguido um documento com a assinatura de 186 deputados, 14 a mais que o mínimo necessário, dispostos a barrar o impeachment na Câmara. A lista, no entanto, trazia deputados de partidos caramente a favor do impeachment, como PSDB, DEM e PP.
Nos bastidores, o governo reconhece que nem mesmo os esforços do ex-presidente estão dando o resultado esperado. Alguns parlamentares têm recusado atender telefonemas do ex-presidente pelo fato de ele ter sido grampeado pela Polícia Federal e o deputado temer ser pego negociando apoio ao governo. Outro fator que tem atrapalhado muitas negociações e aceitação de acertos com o governo é a eleição municipal de outubro. Vários deputados não querem fechar compromissos com o PT. Temem que, caso Dilma vença no Congresso e derrube o impeachment, o PT ignore as conversas deste momento e passe a trabalhar apenas pelos seus candidatos, em detrimento aos das coligações.
O Planalto avalia ainda de que muitos parlamentares também acabaram sendo influenciados pelo mercado, que teme que, com a permanência de Dilma, Lula passe a dar as cartas na economia e o governo volte a implementar o que estão chamando de "medidas perdulárias". Temem a volta do crédito fácil e a ampliação do rombo das contas do governo para tentar, inclusive, ajudar o PT a ganhar as eleições municipais.
Na noite da quarta-feira, 13, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD-SP), esteve com a presidente Dilma e ofereceu o cargo, já que não estava conseguindo garantir os votos de seu partido contra o impeachment. Dilma, no entanto, pediu a ele que esperasse o domingo para decidir. O governo tentava evitar que isso contribuísse com o efeito manada.
Pela manhã, Dilma também recebeu os ministros do PMDB que deixaram seus cargos para retornarem às suas vagas na Câmara e votarm contra o impeachment. Para Dilma, eles conseguirão mobilizar os aliados para "derrotar os conspiradores e golpistas".
O Palácio do Planalto, que havia decidido, na noite de quarta, apressar a assinatura das demissões dos apadrinhados de ex-aliados do governo, resolveu adiar os atos por alguns dias por conta de negociações que ainda estão em curso. Os atos, no entanto, estão prontos e o governo poderá liberá-los a qualquer momento. A ideia do Planalto é estar com os cargos liberados já na próxima segunda-feira, 18, quando a presidente Dilma acredita que o fantasma do impeachment estará afastado após a derrubada do processo no plenário da Câmara, e preenchê-los com os aliados fiéis.
Apesar de toda a mobilização, reservadamente, alguns assessores do Planalto reconhecem que a situação está "muito difícil". Atribuem as principais dificuldades ao que estão chamando de "onda" pró-impeachment que está crescendo. / Colaborou Gustavo Porto
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