- O Estado de S. Paulo
Com Dilma Rousseff já considerada “carta fora do baralho”, principalmente se o impeachment passar, mas não apenas nessa hipótese, a principal preocupação do PT e do núcleo duro governista é manter o ex-presidente Lula no jogo. Dilma aparece todo dia, com o cabelo desalinhado, olheiras profundas, martelando a história do golpe. E Lula, por onde anda? Conversando a portas fechadas e se preservando para o futuro.
Sempre tão estratégico, o PT apela para qualquer coisa na última hora, demonstrando “desespero”, segundo a oposição. O governo e seus aliados entraram com pedidos no Supremo para tentar barrar ou interferir na votação de domingo, enquanto o PC do B divulgava uma lista com 185 nomes “em defesa da democracia”, insinuando que seriam contra o impeachment.
Se o governo estivesse tranquilo e seguro da vitória, entraria horas antes do início da votação com recursos contra o processo? E divulgaria uma lista com nomes até do PSDB, do DEM e de aliados sabidamente a favor do impeachment como se fossem do lado contrário?
Enquanto Dilma se reúne no Planalto com líderes da minoria da população fechada com o governo, o vice Michel Temer vem recebendo políticos de praticamente todos os partidos e Estados – que, portanto, representam a maioria da sociedade e têm voto no Congresso. Já a missão Lula deu errado do começo ao fim. A posse na Casa Civil não valeu, as idas e vindas de jatinho e o hotel mais caro de Brasília foram questionados, o “toma lá dá cá” não pegou bem e, pior, a perspectiva é de derrota no domingo.
A base aliada de Dilma, que jamais foi sólida, esfarelou ao longo do processo de impeachment. Bastou a debandada do PMDB para os demais partidos governistas deixarem de ser governistas e o movimento ganhou velocidade quando a ideia de trocar o governo PT-PMDB por um PT-PP deu em nada. O Brasil se livrou dessa excrescência e o PT escapou por pouco do vexame histórico de um governo Lula-Maluf.
Todo dia a oposição cresce. A cúpula do PMDB uniu-se ao PSDB, PPS e DEM na defesa do impeachment, e a esse bloco aderiram PSB, Rede, PP, PTB, PSD, PR e PRB e, por fim, as siglas menores, PTN, PHS, PROS, PEN e PSL que, juntos, somam perto de 30 votos na Câmara.
Do outro lado, o núcleo duro do Planalto estacionou. Ao PT e ao PC do B somaram-se apenas o PDT e o PSOL. Isso passa a imagem de fraqueza, em contraste com a sensação de força que emana do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente e agora “sede do golpe”, na versão governista. Quanto mais isolados estão Lula e os partidos que lhe restaram, mais ousados e cortejados estão Temer, o PMDB e a nova base aliada do impeachment.
Políticos sentem o cheiro de poder, o que causa uma grande dúvida, caso a votação de domingo aponte para um governo Temer. Como conciliar a promessa de um ministério de “notáveis” com os compromissos que o vice vem assumindo com os partidos que trocaram o atual pelo provável futuro governo? Um grande especialista para a Saúde, ou um novo Marcelo Castro para agradar o PP, o PTB ou o PR?
No andar da carruagem, Temer vai ter uma base aliada jamais vista e dar as cartas a partir de meados de maio. Os movimentos aliados ao PT vão cansar um dia de fazer barulho nas ruas, mas a crise econômica vai continuar nas fábricas, lojas e casas dos brasileiros e, até por isso, os agentes políticos e econômicos tendem a dar a Temer uma trégua, um voto de confiança. Mas não é para sempre.
Que ele aproveite a onda, o recomeço e uma grande maioria no Congresso para fazer reformas, reverter a crise, recompor as contas públicas, retomar o crescimento e proporcionar bem-estar aos milhões de brasileiros que acompanham a votação na Câmara, na maioria torcendo pelo impeachment, mas morrendo de medo do que vem depois. E Lula estará à espreita.
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