Por Bruno Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff disse ontem que o vice-presidente Michel Temer e o correligionário e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atuam como "chefe e vice-chefe" da conspiração por um golpe à democracia no país. Ao fazer referência a Cunha, Dilma afirmou se tratar de "uma mão, não tão invisível assim, que conduz com desvio de poder e abusos inimagináveis o processo de impeachment". Já Temer foi mencionado como "o outro que esfrega as mãos e ensaia o vazamento de pretenso discurso de posse".
Ao dedicar parte de seu discurso a críticas ao vice-presidente, Dilma foi interrompida por gritos de "fora Temer", durante ato com representantes de movimentos ligados à educação, no Palácio do Planalto. A presidente fez menção ao esboço de discurso do vice-presidente, vazado pela imprensa na segunda-feira em sua avaliação de forma premeditada, evidenciando uma conspiração feita abertamente para desestabilizar seu governo. Dilma classificou o vazamento como "farsa" e afirmou que o momento é estranho, preocupante, de golpe e traição.
Dilma disse ter sido vítima nos últimos dias de acusações feitas pelos adversários, como se valer de expedientes escusos para tentar recompor sua base de apoio no Congresso, para evitar a aprovação do pedido de impeachment. Na avaliação da presidente, os adversários a julgaram pelo próprio espelho, propagando calúnias enquanto "leiloam posições no gabinete do golpe, no governo do sem voto". Dilma disse ter ficado "chocada com a desfaçatez da farsa do vazamento".
Dilma disse que a divulgação foi feita "para eles mesmos", em referência ao grupo de deputados do PMDB que recebeu a mensagem, o que é estranho, em sua avaliação. "Tentaram disfarçar o anúncio de posse antecipada subestimando a inteligência de brasileiros", disse a presidente, destacando estar no pleno exercício do cargo para o qual foi eleita, o que a levou a questionar a base legal para o discurso ensaiado pelo vice. Dilma afirmou ainda que os próximos dias vão mostrar "com clareza", em sua avaliação, quem honra e respeita a democracia e quem, segundo disse, não se importa em destruir o regime democrático por meio da ilegítima destituição de uma presidente eleita. De acordo com a presidente, a "verdade prevalecerá, o impeachment não há de passar e o golpe será derrotado".
A presidente voltou a externar a expectativa de revelação do que define como "vazamentos seletivos", afirmou que possivelmente sofrerá "ataques desesperados" e acusações sem prova. Dilma pediu que os eleitores fiquem atentos, mantendo-se unidos, sem aceitar provocações nem se deixar enganar por "manobras mentirosas".
No mesmo evento, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, disse que os três ministros do PMDB licenciados de mandato na Câmara deixarão temporariamente os respectivos cargos nos próximos dias para votar contra o pedido de impeachment da presidente no domingo. "Vamos voltar para fazer a luta contra o impeachment na Câmara. E vamos encerrar o terceiro turno das eleições de 2014", disse o ministro, fazendo referência aos ministros da Saúde, Marcelo Castro (PI), e da Aviação Civil, Mauro Lopes (MG).
Já o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, aproveitou para rebater a campanha promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) contrária ao aumento de impostos no país, denominada "Não vou pagar o pato". A entidade paulista apoia o pedido de impeachment da presidente. Mercadante avaliou que a prática das chamadas "pedaladas fiscais" não poderia justificar o pedido de impeachment e afirmou que o processo político em curso está longe de construir estabilidade democrática.
"Quando os de cima não querem pagar o pato, quem paga são aqueles que sempre pagaram o pato na história desse país: os trabalhadores e o povo", disse.
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