Por Raphael Di Cunto, Thiago Resende, Leandra Peres e Bruno Peres - Valor Econômico
BRASÍLIA - Em dia crítico para o governo, o PP rompeu ontem com a presidente Dilma Rousseff após a bancada na Câmara dos Deputados decidir, por maioria, votar a favor do impeachment da petista. O partido negociava junto com PSD e PR a formação de um novo bloco de apoio ao governo caso Dilma saísse vitoriosa no domingo, tendência que agora pode reverter para a adesão do vice-presidente Michel Temer.
Ainda ontem, o PRB, de onde o governo esperava tirar quatro votos dos 22 deputados, decidiu fechar questão a favor do impeachment - a decisão foi comunicada antes ao presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR). E o nanico PTN, que receberia o Ministério dos Esportes ou o Turismo em troca de nove votos, agora já tem maioria pela destituição de Dilma.
O Palácio do Planalto viu confirmar-se o maior receio na batalha do impeachment: um desembarque em massa dos partidos médios. A estratégia montada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a saída de parte do PMDB da base foi garantir apoio de partidos como o PP, PR e PSD numa tentativa de formar um núcleo mínimo de aliados que seria então complementado por partidos nanicos e dissidências negociadas caso a caso.
A troca de votos por cargos e verbas, no entanto, parecia ruir ontem. E no Palácio do Planalto não havia como esconder o desânimo. Assessores da presidente cumpriam a função protocolar de dizer que o governo não desistiu e que vai brigar até o final, apenas para imediatamente depois reconhecer que a situação estava "muito complicada" ou que o dia foi "um horror".
O governo recebia sinais desde o fim de semana de que o apoio do PP não era tão garantido como parecia, mas não esperava um movimento de debandada. Segundo uma autoridade, o problema criado com a saída do PP é que o partido desmonta toda a lógica do "centrinho" e arrasta junto o PR e PSD, enfraquecendo a posição negociadora do governo, que teria como única alternativa recorrer mais intensamente ao varejão, de resultados muito menos previsíveis e mais sujeito a traições.
Um exemplo é o apoio do PTN. Um grupo de 8 dos 13 deputados da sigla negociou, à revelia da direção nacional, um bloco com Pros e PEN que daria 11 votos ao governo no plenário. Em troca, receberam os orçamentos bilionários da Funasa e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a promessa de um futuro ministério. Três deputados que sinalizavam essa negociação, porém, inverteram os votos após pressão de suas bases, famílias, da cúpula da legenda ou acordos com o PMDB.
A debandada do PP deve provocar novos ruídos. Os deputados do PSD se reúnem hoje, às 17h, para decidir uma posição sobre a votação de domingo - pelo menos 16 já defendem abertamente o afastamento de Dilma, incluindo o líder da bancada, Rogério Rosso (PSD-DF), que foi o presidente da comissão do impeachment. A tendência é liberar os parlamentares, mas um grupo passou a defende que o PSD acompanhe a decisão do PP.
O vice-presidente Michel Temer foi informado ontem que cerca de 80% de votos em plenário do PSD seriam favoráveis ao impeachment. A estimativa mais atual apresentada a Temer - cerca de 30 votos de um total de 36 integrantes - está acima dos cálculos feitos até então, de 25 votos contra o PT.
No PR, o então líder da bancada Maurício Quintella (AL) pediu para deixar o cargo na segunda-feira para votar a favor do impeachment e afirmou que, dos 40 integrantes do partido, 28 estão "cristalizados" nesta posição e 12 que são contra ou estão indecisos. Quintella tentava convencer o ex-deputado Valdemar Costa Neto, principal líder da legenda, a liberar a bancada, mas o dirigente afirmou que não pode romper uma aliança de 14 anos desse jeito - o então PL foi vice de Lula em 2002.
Ontem o deputado Aelton Freitas (MG) foi eleito novo líder do PR e divulgou nota em que disse não haver necessidade de fechamento de questão "para a legenda confirmar a ampla maioria de sua bancada contra o impeachment no domingo".
No PP, o rompimento ocorreu após pressão contra o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira (PI), que na semana passada disse que a orientação seria contra o impeachment - a legenda negociou, além de ocupar todos os cargos do Ministério da Integração Nacional, a Saúde e a presidência da Caixa Econômica Federal. A bancada decidiu por maioria - os números variam de quem conta, mas estão na ordem de 31 a 13 - votar pela saída de Dilma, mas sem punir os dissidentes.
Nas contas do Planalto, ainda é possível garantir 16 votos no partido. O grupo de oposição garante que não passarão de quatro - alguns que discursaram contra o impeachment disseram que seguiriam a orientação partidária. Nogueira, que se reuniu com Temer esta semana, disse que era um gesto de "grandeza e lealdade" não permanecer nos cargos.
No PMDB é cada vez menor o apoio ao PT desde que Temer e Jucá passaram a articular pessoalmente os votos pró-impeachment. O grupo de oposição recolhe assinaturas para reunir a Executiva nacional e "fechar questão" a favor da destituição de Dilma, mas os aliados do líder na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), tentam uma postura mais branda: a orientação favorável, mas sem punir os dissidentes. Picciani estava reunido com o vice-presidente na noite de ontem em busca de um acordo.
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