• Presidente do PMDB, Jucá diz que Dilma está ‘perdendo o equilíbrio’
Tiago Dantas, Cristiane Jungblut, Simone Iglesias - O Globo
-BRASÍLIA- Um dia após o vazamento de um pronunciamento em que fala como se já fosse o novo chefe do Executivo, o vice-presidente Michel Temer negou o rótulo de golpista e declarou que a palavra golpe tem sido utilizada de forma indevida ultimamente. Em entrevista exclusiva à Globo News, ontem, Temer disse que considera uma “ruptura constitucional” a proposta de convocação de novas eleições gerais.
O vice disse estar preparado para assumir a vaga de Dilma Rousseff, caso ela seja impedida, e pregou diálogo com todos os partidos e setores da sociedade:
— Muitos me procuram, embora seja apodado das variadas denominações, como golpista. Passei praticamente três semanas em São Paulo precisamente para que não me acusassem de nenhuma articulação. No Parlamento começou uma guerra contra minha figura. Então, fui obrigado a me defender. O que faço hoje não é guerrear, é me defender.
Questionado se considera um golpe a proposta de novas eleições gerais, Temer respondeu:
— É uma ruptura usando a Constituição. Não gosto de usar a palavra golpe porque ela está muito indevidamente utilizada.
Caso o impeachment de Dilma não passe, Temer acredita que manterá uma relação “institucional” com a presidente. Ele afirmou que não renunciaria, em resposta à sugestão do ministrochefe do Gabinete da presidente, Jaques Wagner, que pediu sua saída caso Dilma permaneça:
— Estarei tranquilo em relação a isso. Ao longo desse período em que fui vice-presidente nunca tive um chamamento efetivo para participar das questões do governo, de modo que se nada acontecer tudo continuará como dantes — ironizou.
Em carta que enviou a Dilma em dezembro, Temer escreveu que passou “os quatro primeiros anos como vice decorativo”.
Dentro da estratégia de preservar Temer, coube ao senador Romero Jucá (RR),
presidente do PMDB, rebater abertamente o discurso de Dilma. Jucá qualificou de “apelação” e de “perda de equilíbrio e serenidade” a fala presidencial na qual Dilma disse que havia “dois chefes do golpe, da farsa e da traição”, num ataque a Temer e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Em defesa, Jucá comparou a presidente Dilma ao ex-presidente Fernando Collor, que sofreu processo de impeachment em 1992.
— Lamento que a presidente Dilma esteja perdendo o equilíbrio, colocando culpa em outras pessoas pelos erros do governo. E, mais do que isso, apelando para um enredo já ultrapassado: porque falar em golpe é o que falou o presidente Fernando Collor há muitos anos. Esse é um enredo batido, copiado e que não deu certo. Era melhor que a presidente tivesse um pouco mais de equilíbrio e análise das suas próprias limitações.
Reunião com Armínio Fraga
No domingo, Temer acompanhará a votação do impeachment em sua casa, em São Paulo. E, às vésperas da sessão, o vice já articula encontro com possíveis nomes que poderiam fazer parte de um eventual mandato presidencial comandado pelo PMDB. Ele já teria marcado um jantar com o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique. Perguntado sobre o encontro após participar de evento em São Paulo, Fraga disse que “esse assunto de agenda vocês têm de falar com ele (Temer)”:
— Eu gastei muito tempo pensando o que fazer (com a economia), durante minha vida inteira. Tenho sugestões de quem estava próximo de assumir.
Já Cunha, ao contrário de Temer, reagiu a Dilma.
— Eu só posso dizer o seguinte: se alguma conspiração existe, ela só pode ser do povo. Não será nunca da nossa parte — afirmou ele na tarde de ontem.
Rompido com Dilma, ele conduz o processo do impeachment na Câmara. (Com G1)
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