• O ex-presidente Lula, o PT, a presidente Dilma Rousseff e todos os que se posicionaram contra o impeachment afirmam e reafirmam que o vice Michel Temer busca assumir o poder por intermédio de um suposto golpe
João Domingos – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O ex-presidente Lula, o PT, a presidente Dilma Rousseff e todos os que se posicionaram contra o impeachment afirmam e reafirmam que o vice Michel Temer busca assumir o poder por intermédio de um suposto golpe porque, entre outras coisas, ele não teve votos na eleição de 2014. Ao contrário de Dilma, que obteve quase 54,5 milhões de votos.
Com isso, tentam tirar a legitimidade de Temer para assumir a Presidência da República, caso o impeachment seja aprovado. Nesse contexto, raciocinam, está configurado o golpe de alguém que não passou pelo teste das urnas contra outro que por elas foi aprovado.
Trata-se de mais um argumento para sustentar o discurso dos que ainda tentam garantir a qualquer custo o projeto de poder do PT. Apenas discurso.
Desde a Constituição de 1988 o vice é eleito junto com o presidente numa chapa única. Portanto, por imperativo constitucional, os votos dados no candidato a presidente são dados também no vice. Tanto é que nos cartazes de propaganda da chapa aparecem sempre os dois candidatos. Também é a Constituição que garante a posse do vice em caso de impedimento do titular.
É claro que o candidato a presidente é quem mais se expõe, seja nos debates entre os que disputam a eleição, seja nos comícios e nas campanhas. Mas há exemplos numerosos de debates também entre os que disputam a vice, sempre falando em nome da chapa, sempre pedindo voto para a dupla e não para um só.
O PT só conseguiu chegar ao poder depois de fazer alianças ao centro. Primeiro, com o PL de Valdemar Costa Neto (um dos presos no processo do mensalão do PT), que cedeu o empresário José Alencar para a vice de Lula em 2002. Alencar foi o responsável por buscar o voto a Lula no setor produtivo, mais do que importante para a vitória.
Em 2010 o PT aprovou em convenção nacional a aliança com o PMDB, que indicou Michel Temer para vice de Dilma Rousseff, e repetiu a indicação em 2014.
Não é exagero dizer que o PMDB foi fundamental para dar os votos que elegeram Dilma tanto em 2010 quanto em 2014. O partido tem mais de 1 mil prefeituras, está presente em todos os cantos do Brasil e em muitos locais fez a campanha sozinho, pediu votos para Dilma, lembrando sempre que o vice era Michel Temer, e sem a presença do parceiro petista.
O que ocorre agora com Temer, que é chamado de sem-voto, é o que ocorre sempre com tudo o que tem o PT no meio. Nunca o partido aceitou abrir mão de sua hegemonia sobre os outros. No mundo político sempre se fala que o PT não tem aliados, tem servos.
Temer, por exemplo, é um político de muita experiência, uma raposa, como dizem por aí. Foi líder do PMDB e presidente da Câmara dos Deputados por três vezes.
Poderia ter auxiliado a presidente Dilma Rousseff nas negociações com o Congresso desde o primeiro governo. Mas foi, como ele mesmo diz, transformado numa figura decorativa. É claro que isso ocorreu porque o PT não divide o poder.
O apego à hegemonia que o PT sempre teve foi também responsável por levar o partido à ruína. Hoje, ao perceber que o governo caminha rapidamente para o fim, os partidos que fizeram parte da base aliada estão todos desembarcando do governo, como já ocorrera com o PMDB. É a hora da vingança, afirmam entre risos os deputados que dão adeus.
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