Isabel Braga, Leticia Fernandes e Simone Iglesias - O Globo
BRASÍLIA – O ambiente pró- impeachment, festejado pela oposição, não se reflete no número de apoios necessários no plenário da Câmara para levar ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. Com o mapa de parlamentares nas mãos, deputados que coordenam o “comitê” do impeachment partiram para um vale-tudo em busca dos 342 votos. Com carta branca oferecida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), o clima no Legislativo é de intimidação e barganhas.
A oposição não descarta ações mais incisivas, como representar no Conselho de Ética contra deputados envolvidos na Lava- Jato, especialmente do PP, caso cedam à tentação de aceitar os cargos oferecidos pelo governo. A estratégia dos coordenadores do impeachment, entre eles os deputados Paulo Pereira da Silva (SD-SP), um dos mais próximos a Cunha; Carlos Sampaio (PSDB- SP) e Mendonça Filho ( DEM- PE) é de constranger deputados que ainda não tenham se posicionado publicamente, expondo fotos, números de telefones e e- mails para que sejam pressionados pelos eleitores. Outra estratégia já em curso é espalhar outdoors em algumas cidades com nomes e fotos dos deputados que votam contra o impeachment. Principalmente em regiões amplamente favoráveis à queda de Dilma.
Nos cálculos da oposição, a Bahia, por exemplo, governada por Rui Costa, tem uma situação mais difícil. Dos 39 deputados, a maioria estaria contra o impeachment:
— Ninguém quer brigar com o governador, mas tenho perguntado a eles: é melhor divergir do governador ou do povo? Se eu não tivesse votado contra o Collor, não estaria aqui hoje — afirma o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).
Dentro da Câmara, Cunha opera às claras para conseguir maioria de votos no plenário. Na semana passada, ele suspendeu todas as missões oficiais ao exterior entre os dias 15 e 25 de abril, período em que o processo deverá ser votado. Cunha também acertou com os líderes da oposição postergar ao máximo a formação das comissões permanentes, que deveriam ter sido montadas em fevereiro. Neste caso, as indicações serão dadas a deputados que se mostrarem leais ao projeto de derrubar a presidente. Para convencer Jovair Arantes ( PTB- GO) a aceitar a relatoria do processo de impeachment na comissão especial, Cunha teria sinalizado a ele apoio para a disputa da presidência da Casa no ano que vem.
Forças-tarefas foram montadas em várias frentes para cooptar votos: uma delas é rastrear atos de nomeação de cargos federais nos estados. Parlamentares contabilizam 32 titulares, que hoje ocupam cargos regionais, que poderão voltar à Câmara para engrossar os votos pró- impeachment. Só em Pernambuco são quatro. Também serão monitorados os deputados que optarem por faltar à votação em plenário.
— O deputado que se ausentar será visto pela população como alguém que vota na Dilma. A população está atenta a todos os passos: querer inventar uma licença, ninguém vai perdoar — afirmou o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).
Já prevendo abstenções e licenças médicas negociadas entre o Palácio do Planalto e parlamentares que não querem se expor defendendo o governo, Cunha cogita derrubar a sessão por falta de quorum, se na hora H perceber um número de ausências fora do padrão — cerca de 60 ou 70, nas contas de aliados — e retomar a votação em dois dias, para que os faltosos sofram pressão dos eleitores. Em caso de ausências, Dilma se beneficia. Para deixar bem claro quem é o deputado ausente, Cunha promete repetir três vezes ao microfone a chamada nominal.
— Se o deputado não estiver morto, ele tem que vir votar. Vamos fazer muita pressão — disse Mendonça Filho.
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