- O Tempo (MG)
O Brasil mergulhou num turbilhão que às vezes parece não ter fim. São múltiplas faces de um roteiro dramático. Corrupção desenfreada, crise econômica aguda, crimes fiscais e eleitorais, desarrumação política completa, intolerância e radicalismos exacerbados, incerteza em relação ao futuro, falta de credibilidade, tensão social. Confesso que, em muitos momentos, sinto na boca o amargo gosto do fracasso. Não era este o país que gostaria de deixar para minha filha. Fui ativo participante das lutas pela democracia. E, às vezes, povoa-me o sentimento de que minha geração fracassou.
O confuso e frágil sistema político brasileiro produziu um quadro trágico que ameaça sair de controle. Nem tudo são espinhos. O Brasil avançou nos últimos 30 anos. A estabilidade econômica, a diminuição da pobreza, a consolidação das instituições republicanas, o império da liberdade são conquistas inequívocas. Mas a atual crise ameaça todas elas.
A temperatura da conjuntura está nas alturas. É difícil achar lugar para a sabedoria, para o bom senso, para a serenidade e para a razão no atual debate público nacional. Mas o momento exige posições claras. Como disse Dante: “No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempos de crise”. O sambista aconselha a fazer como o velho marinheiro e levar o barco devagar durante o nevoeiro. Mas o poeta indica que não há outro caminho: navegar é preciso. Que depois da tempestade, venha a bonança.
A política brasileira gira desde 1994 em torno de dois eixos organizadores: PSDB e PT. Talvez esse ciclo esteja próximo do fim.
A narrativa atual do PT não se sustenta. O TCU já caracterizou inquestionavelmente a ocorrência de fraudes fiscais, decretos e despesas ilegais e agressões à Lei de Responsabilidade Fiscal e à Constituição. A Lava Jato é um manancial interminável de revelação de crimes que vão da corrupção institucionalizada ao enriquecimento ilícito, passando pelo financiamento ilegal de campanhas e pelo abuso de autoridade. A obstrução da Justiça ficou claramente caracterizada na nomeação de Lula. A constitucionalidade e a legalidade do impeachment foram atestadas pela OAB e pelos ministros do STF. Um pouco de humildade e autocrítica faria melhor ao PT do que essa ridícula tentativa de autovitimização e do samba de uma nota só sobre um suposto golpe.
O PSDB, diante desse quadro dramático e nebuloso, sempre apontou o caminho de novas eleições como o melhor. Mas o TSE ainda não julgou, e Dilma não teve a grandeza de adotar esse caminho. Hoje, apoiamos o impeachment diante de tantos crimes de responsabilidade revelados. Para nós, não é um atalho para o poder. Não somos os beneficiários diretos do desfecho esperado. O PMDB surge como um terceiro polo de poder. Não queremos cargos e poder, queremos uma agenda para o país e um plano para a superação da crise. Estamos pensando no Brasil e nas mudanças inadiáveis. O impeachment não é escolha, é necessidade.
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Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG)
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