• Convicções: "Não sou coxinha, sou mortadela", diz Aldo
- Valor Econômico
No último fim de semana, que alongou-se pela segunda-feira até às 23 hs, o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, andou pela fronteira do Brasil com a Bolívia, visitando o Forte Príncipe da Beira, às margens do Rio Guaporé. Comunista, o ministro coordena hoje a execução da política de defesa do Brasil, depois de passar, nos governos petistas, de que seu partido, o PCdoB, é histórico aliado, pelas áreas do Esporte, onde coordenou a Copa do Mundo, e da Ciência e Tecnologia.
Aldo esteve sempre no olho do furacão político, era considerado, nas reuniões de coordenação política dos governos petistas, um especialista em PMDB, mas nada do que aconteceu até aqui atingiu sua tranquila racionalidade.
Enquanto inspecionava instalações militares e cumpria suas obrigações institucionais, os líderes do partido do ministro se sucediam na TV para denunciar o golpe contra Dilma Rousseff, nas inserções da propaganda partidária gratuita. Se há um golpe, na opinião do PCdoB, por que os militares, sob o comando do ministro do partido, não se engajaram na defesa da presidente que, no caso, estaria ao lado da legalidade? Rebelo também compareceu ao programa dos comunistas mas para ressaltar as realizações da área que lidera.
Aldo Rebelo não move um músculo da face nem muda o tom de voz para falar dessa ciranda que o imprensa entre a doutrina comunista, a pressão de seus partidários, os militares, a presidente armando uma resistência a partir da casa onde vai morar se sofrer o impeachment, nem nega a delicadeza da equação política que o envolve.
"Estou no cargo de ministro da Defesa, uma função institucional, não é partidária. Algumas funções de Estado, como a Defesa, as Relações Internacionais, têm que ser ocupadas como instituições fundadoras quase que da nacionalidade. São funções que em algum momento da história foram protagonistas da independência", citando inúmeros exemplos da história do Brasil em isso ocorreu, conscientização presente em todas as suas atividades.
Nem a presidente Dilma Rousseff pediu apoio militar, nem as Forças Armadas ofereceram sua participação na política. Mas em um trabalho preventivo, de esclarecimento, porém, fez análises políticas para as altas patentes. Aldo Rebelo mostrou o acerto de ficarem longe do turbilhão. Numa de suas últimas conversas para explicar esta inexplicável situação política, o ministro da Defesa mostrou como os militares se deram mal quando entraram como protagonistas dos fatos políticos. Foi em 1964 quando, segundo o ministro lhes disse, entraram por último e ficaram como únicos responsáveis.
Chegaram, primeiro, os empresários, depois os grandes intelectuais, em seguida a CNBB e a OAB fizeram seus manifestos, lembrou. A Comissão da Verdade, segundo avaliação feita pelo ministro aos líderes das três Forças, só foi atrás dos militares, não se tem notícia que tenha seguido um empresário, por exemplo, um bispo. Dividiram uma instituição que é de Estado, da nacionalidade do país, em grupos. Houve o domínio da imagem de torturadores. Com a redemocratização, a comissão veio atrás deles. "Isso marcou essa geração hoje à frente dos comandos", afirma Aldo Rebelo.
A política divide, assinala o ministro, e a marca de 64 os ajuda a não quererem que se produza em relação a eles a divisão que se vê na sociedade.
Em um dos encontros para análise da conjuntura, Rebelo falou com os comandantes militares sobre a necessidade das instituições se manterem longe do conflito político. Foram conversas preventivas, de esclarecimento, não havia inquietação, nem ameaça, nem pedido de socorro por parte das presidente Dilma, que nunca tocou nesse assunto com seu ministro da Defesa.
Por sinal, com toda conturbada relação que, era de se esperar, a presidente teria com a área militar, de quem foi prisioneira na ditadura, não houve um só incidente desagradável nem antes nem agora, quando Dilma denuncia no exterior um golpe de Estado contra ela. Para não dizer que não houve nada, apenas um fato notório: o comandante do Exército, general Eduardo Vilas Boas, demitiu do comando militar do sul, e trouxe para uma função burocrática em Brasília, o general Antonio Hamilton Martins Mourão, hoje na Secretaria de Economia e Finanças do Exército, tendo perdido o direito de falar à tropa.
Mourão firmou um estilo, em duas oportunidades, considerado inadequado aos novos tempos. Primeiro, falando a oficiais da reserva, fez críticas aos políticos e ao governo, convocando os presentes para "o despertar de uma luta patriótica". Depois, em palestra, criticou a presidente Dilma, dando destaque ao fato de que o impeachment colocaria fim "à incompetência, má gestão, corrupção". A remoção, discreta, foi considerada exemplar.
"Os episódios de 64 marcaram a geração hoje nos comandos, e não querem que se reproduza em relação a eles a divisão da sociedade na política", diz Aldo. Numa de suas conversas, o ministro falou sobre a necessidade de as instituições se manterem longe do conflito político. Para Dilma, a ação militar é tabu; e para os militares, a política é tabu.
Não houve, também, apelo por solidariedade, outra orientação considerada acertada. "Você corre o risco de não ter solidariedade e sempre tem uma turma que é contra você. Quem tem a prerrogativa de apoiar, tem de não apoiar", argumenta.
Para Aldo Rebelo, o país está dividido, e uma instituição nacional, como as Forças Armadas, "não pode se expor a escolher um lado em uma hora dessas". É preciso deixar que as instituições políticas resolvam sua crise, recomenda.
No governo os militares não foram tema, no ministério da Defesa a política não foi tema. "Ministro da Defesa não é cargo para você fazer política partidária", diz o ministro quando lembrado que o seu partido estava na TV a bradar contra o golpe.
Ainda que sua indicação para o ministério seja partidária, o ministro defende que não se leve para lá a política partidária, separando suas responsabilidades institucionais de suas convicções políticas, que não deixou de ter.
E quais são essas?
"Não sou coxinha, sou mortadela", diz Aldo Rebelo.
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