Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - A política de alianças na eleição do Rio criou um conflito familiar. Divididos sobre qual candidato à prefeitura da capital irão apoiar, o ex-governador Anthony Garotinho e sua filha, a deputada federal Clarissa Garotinho, do PR, travam uma disputa que podem levá-los a uma solução extrema. "Sou presidente do diretório estadual, e ela do municipal. Posso intervir", afirmou Garotinho ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real doValor. O ex-governador quer se coligar com o deputado federal Indio da Costa (PSD). Clarissa prefere lançar-se candidata, mas trabalha por uma união com o senador Marcelo Crivella (PRB).
A estratégia de Garotinho inclui um acordo pragmático com Indio, no qual ambos trocariam essencialmente o tempo de TV, num grupo de municípios. O principal deles, para o líder do PR, é Campos, região norte do Estado, reduto original da família e onde sua mulher, a ex-governadora Rosinha Garotinho, conclui o segundo mandato como prefeita, sem direito à reeleição.
Clarissa, porém, diverge do pai. Prefere que o partido apoie Crivella, por ter um eleitorado evangélico semelhante ao seu e ao do clã político. "Ela criou esse empecilho porque acha que não vai dar certo, que o eleitor do Indio não tem nada a ver com o nosso", disse Garotinho. O pai conta que o principal argumento da filha é a má experiência que tiveram quando decidiram apoiar em 2012 a candidatura a prefeito de Rodrigo Maia (DEM), atual presidente da Câmara dos Deputados. Clarissa foi vice na chapa, que ficou em terceiro lugar com 2,94% dos votos, contra 64,6% do prefeito Eduardo Paes (PMDB) e 28,15% do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol).
A deputada afirma que a base da família Garotinho tem "proximidade maior com Crivella do que com o Indio". "É mais fácil transferir votos. É um campo político com o qual temos mais identificação", defende. O ex-governador conta que a filha, como presidente do diretório da capital, já lhe disse que não assinaria a ata de apoio a Indio da Costa. A recusa inviabilizaria a formalização da aliança, o que poderia ser resolvido com uma intervenção, avisa Garotinho. "A Clarissa tem uma posição que respeito, mas eu tenho outra. Vamos ver o que vai acontecer", diz. A convenção do PR em Campos será no sábado e a do Rio na quinta-feira, 4.
A coligação com Indio faz parte de um plano do ex-governador de derrotar seu maior adversário no Estado, o PMDB, cujo candidato é o deputado federal Pedro Paulo Carvalho, apadrinhado por Paes. Ainda desconhecido da maior parte da população, Pedro Paulo tem o desafio de ultrapassar os favoritos Crivella e Freixo, além de outros concorrentes como Flávio Bolsonaro (PSC), numa disputa pulverizada. A estratégia de Garotinho é fortalecer Indio e congestionar ainda mais o caminho de Pedro Paulo, evitando que ele chegue ao segundo turno. "[Eu e Indio] Temos um objetivo comum, que é derrotar o PMDB", diz o ex-governador.
Clarissa joga menos com o fígado. A deputada demonstra vontade de concorrer à prefeitura da capital, embora tenha acabado de ter o primeiro filho, Vicente. Por causa disso, os pais Garotinho e Rosinha acham que ela deve priorizar a relação com o bebê, em vez de se lançar numa disputa que se desenha muito dura. Clarissa considera que as novas regras eleitorais, que diminuíram o tempo de campanha, lhe são favoráveis. "Se fosse nos moldes antigos de campanha, com três meses, seria exaustivo. Mas serão, de fato, só 30 dias, isso facilita porque posso me organizar, sem perder a relação com meu filho", diz.
A deputada afirma ainda que este é "o melhor momento para quem quer disputar uma eleição", pois será a primeira vez, argumenta, na qual a máquina da prefeitura não tem um candidato favorito. Com a proibição do financiamento empresarial e o teto de gastos, Clarissa acredita que será uma disputa baseada mais em entrevistas, debates, "midiática" e que a melhor maneira de se resolver a divergência com o pai sobre a política de alianças é a candidatura própria. Mas também gostaria de ter protagonismo como vice de Crivella.
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