Por Fernando Taquari – Valor Econômico
SÃO PAULO - Em depoimento ao juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, o executivo Flávio Gomes Machado Filho, ligado a Andrade Gutierrez, mencionou on cobrança de propina que teria sido feita pelo ex-ministro Ricardo Berzoini. O petista, conforme o relato de Machado, pediu 1% de todos os contratos entre a empresa e o governo federal, inclusive para obras já realizadas.
A cobrança teria ocorrido em um encontro no escritório da Andrade Gutierrez, na capital paulista, em 2008, que reuniu o então presidente da companhia, Otávio Azevedo, Berzoini, o tesoureiro do PT na época, Paulo Ferreira, e João Vaccari Neto.
"Nessa reunião, Berzoini fez essa colocação, que gostaria que todo e qualquer contrato da Andrade Gutierrez junto ao governo federal tivesse o pagamento de vantagens indevidas no valor de 1%", disse Machado, que ligou o pagamento a projetos da Eletronuclear e a um empréstimo do BNDES para uma construção na Venezuela.
Segundo o delator, foi uma conversa desagradável, já que os executivos da empresa não achavam que deveriam fazer o pagamento porque não tinham nenhuma vantagem "especial" do PT.
"Senti claramente a reação do Otávio Azevedo. Ele, inclusive, se resguardou para que desse uma posição final mais à frente em outra reunião", contou Machado, acrescentando que Berzoini adotou uma postura "incisiva e além do tom" ao cobrar a propina.
O executivo sugeriu que a empresa poderia sofrer retaliação caso não efetuasse o pagamento. "Veladamente deu para perceber que poderia haver algum tipo de situação desconfortável para nós. Entendemos como sendo uma pressão. Não foi uma solicitação: 'pode aceitar ou não aceitar'. A gente achou quase que como uma imposição", explicou.
Outros dois executivos da Andrade Gutierrez também prestaram depoimento a Moro. Tanto Elton Negrão como Pedro Campelo confirmaram a pressão para o pagamento de propina e a existência de cartel para obras da Petrobras desde 2000.
"O Rogério [de Sá Nora, presidente da holding] me falou que, em uma conversa do PT com o Otávio [Azevedo] acertou percentual [de propina] e que a empresa ia cumprir. Ele disse que tinham decidido aumentar as contribuições oficiais para diminuir a pressão por pagamentos", afirmou Negrão. A reportagem não encontrou Berzoini até o fechamento desta edição.
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