Bela Megale – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirmou aos procuradores da Operação Lava Jato que o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho pediu a ele que procurasse o então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição, Edinho Silva, para fazer doações.
Pessoa fez as afirmações em uma complementação de sua delação premiada.
Segundo o depoimento de Pessoa, feito no mês passado, a conversa aconteceu em 2014, quando Coutinho ainda era presidente do BNDES.
Ele foi o presidente mais duradouro da entidade, permanecendo no cargo de maio de 2007 a maio de 2016.
O empresário relatou aos investigadores que teve uma reunião com Coutinho e outros executivos da UTC na sede do BNDES em São Paulo para tratar do projeto do aeroporto de Viracopos, na região de Campinas (SP).
A UTC integra o grupo que controla o empreendimento e que contou com um empréstimo do banco estatal de R$ 1,5 bilhão aprovado em dezembro de 2013.
Ao final da reunião, segundo o depoimento de Pessoa, o então presidente do BNDES pediu para que os executivos que estavam no local saíssem da sala e que permanecesse apenas os sócios da UTC.
A sós com o grupo, Coutinho teria dito, segundo o delator, que a partir daquele momento deveriam procurar Edinho para tratar de doações para a campanha da presidente Dilma de 2014.
Edinho, que após a reeleição de Dilma se tornou ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, atuou como tesoureiro da campanha de reeleição.
Compromisso
Para os investigadores, o depoimento do dono da UTC pode ser um indício de que Coutinho obtinha o compromisso de doações eleitorais entre empresários que tinham financiamentos junto ao BNDES.
Participantes do comitê da campanha de Dilma relataram à Folha que Coutinho tinha a função, juntamente com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, de apresentar Edinho aos empresários, já que quem transitava entre eles era o ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto.
Segundo a Folha publicou em maio, Marcelo Odebrecht relatou, ao negociar sua delação, que Coutinho e Mantega cobravam de empresários financiados pelo BNDES doações para Dilma em 2014.
Nesta segunda (25), o ex-diretor da Andrade Gutierrez Flávio Machado reafirmou que foi instado a doar ao PT após a empresa ser beneficiada por empréstimo do BNDES.
Delator
O dono da UTC fechou um acordo com a Procuradoria-Geral da República que foi homologado em junho do ano passado no STF.
Acusado de ser o coordenador do cartel das empreiteiras vigente na Petrobras, Pessoa começou a dar depoimentos no primeiro semestre de 2015 e continua a colaborar esporadicamente. Este ano, foi chamado para fazer complementações sobre fatos de que não havia falado.
Além de relatar a reunião com Coutinho, Pessoa também falou de acertos para a campanha do petista Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo em 2010, incluindo pagamento de caixa dois.
Outro lado
Coutinho afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que nunca se envolveu em questões ligadas a doações eleitorais.
No ano passado, ele confirmou em depoimento à CPI da Petrobras que se reuniu com Pessoa, mas negou que tenha indicado que ele procurasse Edinho.
"Não tratei de doações eleitorais com Ricardo Pessoa. No encontro que tivemos, no qual também estavam outras pessoas, tratamos apenas sobre projeto do aeroporto de Viracopos", relatou a época.
Edinho não quis comentar o depoimento de Pessoa. A defesa de Pessoa não retornou os contatos da reportagem.
Doação por pressão
Delator volta a mencionar campanha de Dilma
Ricardo Pessoa
(dono da UTC e Constran)
Afirmou em delação que foi "persuadido" por Edinho Silva a contribuir mais para o PT, por sua empresa ter grandes contratos com a Petrobras. Disse que o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho lhe pediu para procurar Edinho
Outras delações que citam campanhas de Dilma
Zwi Skornicki
(lobista)
Diz ter pago, a pedido de ex-tesoureiro do PT, US$ 4,5 milhões para o marqueteiro de Dilma, João Santana
João Santana e Monica Moura
(ex-marqueteiro do PT e sua mulher)
Confirmaram que pagamento de Skornicki era caixa dois da campanha de Dilma
Marcelo Odebrecht
(ex-presidente da Odebrecht)
Nas tratativas da delação, advogados adiantaram que ele deve dizer que houve pagamento de caixa dois na campanha de reeleição
Otávio Marques de Azevedo
(ex-presidente da Andrade Gutierrez)
Afirmou que a empreiteira fez doações legais às campanhas usando propinas de obras superfaturadas
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