• Segundo ex-presidente da OAS, ex-ministro Berzoini participou de reunião para barrar avanço de investigações
O ex-presidente da OAS José Adelmá- rio Pinheiro, o Léo Pinheiro, admitiu ao juiz federal Sérgio Moro pagamento de propinas para abafar a CPI mista da Petrobrás, em 2014. Pinheiro disse que repassou ao PMDB R$ 2,5 milhões – sendo R$ 1,5 milhão por caixa 2 – e que o petista Ricardo Berzoini, então ministro de Relações Institucionais de Dilma Rousseff, participou de reunião em que teria sido tratado o acerto para impedir o avanço das investigações da CPI. O empreiteiro afirmou ter se sentido extorquido pelos então ex-senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rêgo (PMDB-PB) – que eram vice e presidente, respectivamente, da comissão – e pelo ex-ministro de Dilma. Declarou ainda que foi procurado na época pelo deputado Marco Maia (PTRS), relator da CPI, que lhe pediu “contribuição de R$ 1 milhão” para “proteger” a OAS no relatório final da comissão parlamentar.
Léo Pinheiro liga Berzoini a ação para abafar CPI
• Lava Jato. Em depoimento a Sérgio Moro, ex-presidente da OAS admite ter pago propina a parlamentares e diz que ministro de Dilma relatou preocupação do governo com comissão
Ricardo Brandt, Mateus Coutinho Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo
/ CURITIBA - O ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, admitiu ontem, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, o pagamento de propinas para abafar a CPI mista da Petrobrás, em 2014. Léo Pinheiro disse que repassou R$ 2,5 milhões – sendo R$ 1,5 milhão por meio de caixa 2 – ao PMDB e que o petista Ricardo Berzoini, então ministro de Relações Institucionais do primeiro governo Dilma Rousseff, participou de reunião na qual o acerto para impedir o avanço da CPI teria sido tratado.
O empreiteiro afirmou ao juiz responsável pela Lava Jato na primeira instância ter se sentido extorquido pelos então senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rêgo (PMDB-PB) – vice e presidente, respectivamente, da comissão – e pelo ex-ministro de Dilma, agora presidente cassada. Disse também que foi procurado na época pelo deputado Marco Maia (PTRS), relator da CPI, que lhe pediu “uma contribuição de R$ 1 milhão” para “proteger” a OAS no relatório final da comissão.
Léo Pinheiro e Gim Argello são réus em ação penal que tramita em Curitiba. Ambos estão presos preventivamente. Segundo a denúncia, a OAS acertou o pagamento de R$ 5 milhões com o ex-senador para evitar prejuízos ao governo e às empreiteiras na CPI mista.
Vital, hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), é investigado em inquérito no Supremo Tribunal Federal. Berzoini não é alvo do processo.
Léo Pinheiro já havia sido interrogado por Moro nesse processo e ficou calado. Depois de ter sua delação suspensa pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ser preso pela segunda vez, ele pediu para ser novamente interrogado.
“Queria agradecer ao senhor e ao Ministério Público a oportunidade para eu esclarecer, para falar a verdade, mesmo que esses fatos me incriminem. Eu cometi crimes e, para o bem da Justiça do nosso país, para o bem da sociedade, estou aqui para falar a verdade, para falar tudo que eu sei”, afirmou.
Léo Pinheiro disse que, após a deflagração da Lava Jato, foi chamado para um almoço na casa de Gim Argello, no qual estavam Vital do Rêgo e executivos da Odebrecht e Andrade Gutierrez. Segundo narrou, em um segundo encontro, Berzoini estava com os dois parlamentares.
‘Surpresa’. “Fui convocado para um encontro na casa de Gim Argello e lá estavam o senador Vital do Rego e, para minha surpresa, o ministro das Relações Institucionais do governo Dilma, Ricardo Berzoini. Eu fiquei surpreso”, disse o empreiteiro.
“O ministro relatou que era uma preocupação muito grande do governo da presidente Dilma o desenrolar dessa CPMI e gostaria que as empresas pudessem colaborar, o quanto possível, para que essas investigações não tivessem uma coisa que prejudicasse o governo.”
Sobre Marco Maia, o empreiteiro disse que o deputado petista o procurou naquele ano para cobrar propina em troca de proteção à OAS na comissão. “Ele teve uma conversa comigo, que podia ajudar porque o relatório é fruto de um trabalho investigativo feito durante o período (da CPI) e o relatório final é que é votado. Então, ele teria condições de ajudar no sentido de proteger nossa empresa.”
É a primeira vez na Lava Jato que Léo Pinheiro confessa crimes envolvendo o esquema na Petrobrás. Ele já foi condenado em outra ação penal da operação a 16 anos de prisão.
O processo no qual o empreiteiro depôs ontem trata do repasse de R$ 350 mil a Argello via doação à Paróquia São Pedro, no DF. “A OAS pagou R$ 350 mil de doação à paróquia de Brasília e pagou R$ 2,5 milhões, sendo R$ 1 milhão doação ao PMDB nacional e R$ 1,5 milhão através de caixa 2”, disse Léo Pinheiro. Defesas. “Nunca estive com Vital do Rêgo junto com o Gim Argello para tratar de qualquer assunto fora do Congresso. Era uma conversa que o Gim me convidou para ter com ele sobre a pauta no Senado”, afirmou Berzoini. O ex-ministro disse ainda que não houve nenhum pedido a Léo Pinheiro.
“(O depoimento de Léo Pinheiro é) fruto de retaliação de um criminoso por mim indiciado na CPMI”, declarou Marco Maia. “Refuto com indignação tais ilações”, disse o petista.
Vital do Rêgo afirmou que “jamais negociou valores relacionados a doações ilícitas ou qualquer tipo de vantagem pessoal”. Disse que “repudia as infundadas alegações”. O PMDB não respondeu aos contatos da reportagem. A defesa de Gim Argello não foi localizada. O Estado não conseguiu contato com a assessoria de Dilma Rousseff.
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