Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico
SÃO PAULO - O sócio e ex-presidente da OAS, José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, confessou a prática de crimes na Petrobras e implicou o ex-ministro de Relações Institucionais de Dilma Rousseff, Ricardo Berzoini (PT), em negociações que teriam o objetivo de blindar o governo e as empreiteiras das investigações conduzidas pela CPI Mista da Petrobras, em 2014. Procurado, o ex-ministro Ricardo Berzoini não foi localizado até o fechamento desta edição.
Interrogado pelo juiz Sergio Moro, titular da Operação Lava-Jato na primeira instância, em ação penal por corrupção a que responde juntamente com o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), Léo Pinheiro relatou ter participado de reunião na casa do ex-parlamentar em que se tratou de livrar o governo Dilma das apurações conduzidas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
"Fui convocado para um encontro na casa do senador Gim Argello e lá chegando estavam presentes o [então] senador Vital do Rego [atual ministro do TCU] e, para minha surpresa, estava presente o ministro das Relações Institucionais do governo Dilma, o ministro Ricardo Berzoini. Eu fiquei surpreso, eu não o conhecia pessoalmente", afirmou o empreiteiro ao juiz Sergio Moro.
Ele relatou ao magistrado que foi chamado para o encontro na casa de Gim Argello, em 2014, após a deflagração da Operação Lava-Jato - iniciada em março daquele ano. Nessa reunião, segundo Léo Pinheiro, também estava presente Vital do Rêgo.
"Gim queria promover um almoço e estariam presentes outras empresas do setor, segundo ele a cinco maiores", afirmou o empreiteiro. Ele disse também que foi avisado da reunião pelo então presidente da Andrade Gutierrez, Otavio Azevedo, que fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República. Nesse encontro também estava um diretor da Odebrecht, Cláudio Mello, e dois diretores da Andrade Gutierrez, segundo Léo Pinheiro.
O sócio da OAS contou ainda ter havido uma segunda reunião da qual Berzoini teria participado, com Rêgo e Argello.
"O ministro relatou que era uma preocupação muito grande do governo da presidente Dilma o desenrolar dessa CPMI e que gostaria que as empresas pudessem colaborar, o quanto possível, para que essas investigações não tivessem uma coisa que prejudicasse o governo", afirmou.
O interrogatório de Léo Pinheiro a Moro foi solicitado pela defesa do empresário ao magistrado. Na primeira vez em que foi interrogado, nessa mesma ação penal, Léo Pinheiro negociava acordo de delação e optou por ficar em silêncio.
"Eu cometi crimes e, para o bem da Justiça, o bem da sociedade, estou aqui para falar tudo o que sei", disse Pinheiro, em seu primeiro ato de confissão em juízo na Lava-Jato. Ele já foi condenado a 16 anos de prisão por corrupção na Petrobras.
Como as negociações para delação foram suspensas após a divulgação de trechos dos anexos de depoimentos do empreiteiro, Pinheiro resolveu confessar seus crimes.
Em nota enviada pelo TCU, Vital do Rêgo afirma que "jamais negociou, com quem quer que seja, valores relacionados a doações ilícitas de campanha eleitoral ou qualquer tipo de vantagem pessoal".
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