Ex-presidente da OAS e condenado na Lava-Jato, Léo Pinheiro admitiu em depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, ter pagado propina para tentar abafar a CPI da Petrobras, em 2014. O executivo revelou que, num dos encontros para tratar do tema, em que não foram discutidos valores, se surpreendeu ao encontrar Ricardo Berzoini, ministro de Relações Institucionais na gestão Dilma. Pinheiro afirmou ter entendido a presença de Berzoini como um “instrumento de pressão”.
Propina para abafar CPI
• Léo Pinheiro admite pagamento a parlamentares e diz que ministro de Dilma foi a encontro
Cleide Carvalho e Dimitrius Dantas - O Globo
-SÃO PAULO- O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro afirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro que Ricardo Berzoini, então ministro de Relações Institucionais do governo Dilma Rousseff, participou de uma das reuniões encabeçadas pelos ex-senadores Gim Argello e Vital do Rêgo, que resultaram em pagamento de propina. Em troca, empresas seriam poupadas das investigações, em 2014. Vital do Rêgo presidiu a comissão; Argello era vice.
O empresário disse ter sido convidado para uma reunião na casa de Argello, em Brasília. Lá, ficou surpreso ao encontrar Berzoini. O encontro teria sido o primeiro entre os dois, e o então ministro teria relatado a preocupação do governo com o desenrolar das investigações e pedido a colaboração das empresas para evitar que o governo fosse prejudicado.
— Para minha surpresa, estava o ministro das Relações Institucionais do governo da presidente Dilma, o ministro Ricardo Berzoini. Confesso que fiquei surpreso.
Segundo Pinheiro, a conversa com o ministro durou cerca de 40 minutos. Depois que Berzoini saiu, o assunto foi tratado com os senadores. Pinheiro disse ter ficado com a clara impressão de que a presença do ministro foi um “instrumento de pressão”:
— Claro que o presidente de uma CPI, o vice-presidente, um ministro de Estado e um empresário que está sendo investigado não é uma reunião adequada, acho que isso está claro para qualquer pessoa — afirmou. Nesse encontro, não houve pedido de dinheiro. Segundo o empresário, os senadores disseram que, em função dos cargos que ocupavam, poderiam interferir nos trabalhos. Outras reuniões foram agendadas e, numa delas, Argello disse que, para ser ajudado, o empresário teria que ajudar com recursos, incluindo dinheiro para a campanha de Vital do Rêgo, pelo PMDB, ao governo da Paraíba.
Pinheiro disse ter feito uma única contribuição a pedido de Argello, de R$ 350 mil, para a Paróquia São Pedro, em Taguatinga. Teria ainda depositado R$ 1 milhão na conta do PMDB nacional; mais R$ 1,5 milhão teria sido pago por caixa dois. As orientações para depósito teriam sido dadas por um advogado de Recife, indicado por Vital do Rêgo. A doação para a campanha da Paraíba, segundo ele, não era uma doação política.
— O estado da Paraíba não era um estado estratégico para a empresa. Uma doação dessa monta, óbvio que não é uma doação política.
Perguntado se acreditava que o pedido feito por Argello e Vital do Rêgo seria uma extorsão, o empresário disse que sim:
— Claro que eu cometi um crime, eu estou consciente disso. Mas lógico que tinha uma extorsão — disse.
O empresário também falou sobre um encontro com o deputado Marco Maia (PT-RS), relator da CPI mista. Segundo Pinheiro, Maia também disse que poderia proteger a OAS. Na conversa, teria dito que, por ser relator de uma CPI que investigava a Petrobras e grandes grupos empresariais, encontraria dificuldade para obter doações de campanha. Em troca da ajuda, pediu contribuição de R$ 1 milhão, feita pela OAS.
Pinheiro é acusado de ter articulado uma ação das empreiteiras para obstruir a CPI mista. A Moro, disse que não conhecia Argello e que foi ao primeiro encontro com ele a convite de Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez. Admitiu ter convidado para participar das conversas Ricardo Pessoa, da UTC, e o lobista Júlio Camargo. Os três são delatores da Lava-Jato.
Moro perguntou se ele imaginava que pediriam dinheiro para Ricardo Pessoa; Pinheiro admitiu que sim:
— Era óbvio, eu sabia que podiam fazer o que fizeram comigo — disse.
O ex-presidente da OAS é réu na ação que investiga a obstrução da CPI mista da Petrobras e os pagamentos a Argello. No primeiro depoimento a Moro, ficara em silêncio. Um dias depois de voltar à prisão, por determinação do juiz, mudou de ideia e afirmou que queria esclarecer os fatos. Ao fim do depoimento, disse pela primeira vez que desejava colaborar com as investigações.
— Quero colaborar no que eu puder e agindo exatamente como agi aqui. Eu sei dos crimes que eu cometi. Não estou fugindo de nenhum deles. Direi todos que cometi, seja quem for do outro lado — afirmou.
Senador e ex-ministro negam irregularidade
Vital do Rêgo, agora ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), afirmou em nota que “jamais negociou, com quem quer que seja, valores relacionados a doações ilícitas de campanhas eleitorais ou qualquer tipo de vantagem pessoal”. Marco Maia não se manifestou. Rêgo e Marco Maia têm foro privilegiado e a atuação deles para barrar a CPI mista já é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois já tinham aparecido na delação do ex-senador Delcídio Amaral.
Em seu depoimento a Moro, Gim Argello chegou a chorar. Disse que os pedidos de ajuda para a campanha de 2014 não estavam vinculados aos trabalhos da CPI mista da Petrobras.
Berzoini disse ontem que estava num encontro com Argello quando o empresário chegou, sem que ele soubesse. Afirmou que, na condição de articulador político do governo Dilma, apenas manifestou preocupação para que a CPI da Petrobras não se tornasse um “palanque político-eleitoral”. Ressaltou que não havia preocupação do governo em relação às empreiteiras, mas com o clima ruim que a comissão poderia causar no Senado.
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