- Folha de S. Paulo
Se não houver uma reviravolta de última hora, Marcelo Crivella se elegerá prefeito do Rio neste domingo. A quatro dias das urnas, o senador e bispo da Igreja Universal mantém vantagem folgada sobre o adversário Marcelo Freixo. Caso o cenário se confirme, a segunda maior cidade do país passará às mãos de um camaleão em forma de político.
Desde que chegou ao Senado, em 2003, Crivella investiu numa imagem de moderação e temperança. Prometeu respeitar o Estado laico e guardou distância da pregação fundamentalista de outros pastores televisivos. Aproximou-se de Lula e José Alencar, virou ministro de Dilma e apostou em alianças ao centro.
A estratégia rendeu frutos. Aos poucos, ele venceu resistências ao parentesco com o bispo Edir Macedo, seu tio, e conseguiu ganhar espaço entre eleitores não evangélicos. A calamidade das gestões do PMDB fluminense fez o resto do serviço, e o senador se tornou favorito à sucessão do prefeito Eduardo Paes.
Na reta final da eleição, um outro Crivella está se revelando ao eleitor. De um lado, reportagens têm mostrado seu passado de preconceito e intolerância. O candidato escreveu um livro com insultos a outras religiões e ironizou um episódio sombrio da Universal: o chute de um bispo na imagem de uma santa católica.
O senador pediu desculpas pelo que disse e escreveu, mas agora dá uma guinada na direção do ultraconservadorismo, em aliança com a família Bolsonaro. Na última sexta (21), ele declarou que o adversário pretende "popularizar o aborto", "liberar a cocaína" e "ensinar nossas crianças que não tem menino nem menina".
Dizendo-se perseguido, Crivella também passou a atacar a imprensa. Nos últimos dias, xingou jornalistas e faltou a entrevistas e debates de diversos veículos, como Folha, SBT, CBN, "O Globo" e TV Globo. É uma atitude preocupante para quem se propõe a governar para todos os cariocas, e não apenas para os fiéis de sua confissão religiosa.
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