Enquanto o peso de sua base aliada garante vitórias folgadas no Legislativo, o governo de Michel Temer (PMDB) sem dúvida acompanha com apreensão o que se passa no Poder Judiciário.
Avançaram as conversas que o Ministério Público Federal mantém com a Odebrecht no intuito de contar com a delação premiada de executivos da empreiteira.
Negociava-se a princípio a colaboração de 53 executivos, incluindo o ex-presidente e herdeiro do grupo baiano, Marcelo Odebrecht, preso há um ano e quatro meses em Curitiba. Envolvidos de alguma forma no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, buscam um acordo como forma de amenizar suas penas.
Nas últimas semanas, como noticiou esta Folha, surgiu a possibilidade de incluir nas tratativas cerca de 30 funcionários da empresa que tiveram seus nomes mencionados nos relatos já colhidos pelos procuradores. Com isso, pode passar de 80 o total de pessoas relacionadas na colaboração da Odebrecht.
A esta altura ninguém ignora o potencial explosivo dessas delações, e os integrantes da força-tarefa da Lava Jato decerto as aguardam com especial ansiedade.
Trata-se, afinal, de empresa que, de acordo com os investigadores, destacava um departamento para cuidar das propinas; não custa lembrar que uma planilha apreendida em março na casa de um ex-executivo lista possíveis repasses a mais de 300 políticos de 24 partidos.
Em conversas preliminares, funcionários da Odebrecht já citaram personagens de primeira grandeza, como o presidente Temer, os ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) e o ministro tucano José Serra (Relações Exteriores), além de governadores e congressistas.
Mais recentemente, segundo a revista "Veja", o executivo Claudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira, colocou na mesa os nomes do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), do secretário Moreira Franco (Programa de Parcerias de Investimentos) e do senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Os três peemedebistas integram o círculo próximo de Temer e, a exemplo dos demais políticos, negam ter praticado irregularidades.
Desde que, por força do impeachment, viu-se alçado à condição de chefe do Executivo, Temer sabe que precisará conservar-se incólume entre os desafios impostos pela crise econômica e as revelações vexaminosas da Operação Lava Jato.
Se no Congresso uma correlação de forças amplamente favorável lhe tem garantido, tanto quanto possível, alguma estabilidade no campo da economia, no Judiciário a balança da justiça continua sendo fonte de desequilíbrio.
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