• Fernando Henrique diz que o PSDB não deve se descolar de Temer, a quem chamou de ‘macaco velho’
- O Globo
O clima no auditório da Maison de France durante o terceiro encontro “E agora, Brasil?” foi tomado pela esperança quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao lembrar da implementação do Plano Real, sentenciou:
— Meus assessores diziam que era impossível fazer qualquer coisa. Mas, (a situação) só muda quando está tudo ruim. É possível mudar na crise, desde que haja liderança.
Diante das semelhanças com a crise atual, a afirmação foi repetida como conselho ao presidente Michel Temer, com quem FH almoçou dias antes do debate promovido pelo GLOBO com apoio da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Fernando Henrique disse que o presidente tem de “se jogar” para fazer as reformas que o país precisa — entre elas a política e a da Previdência. A ampla vitória do governo na Câmara dos Deputados na votação da PEC 241, que estabelece um teto para os gastos públicos, indicou para o ex-presidente que Temer tem condições de levar adiante esta agenda.
— Vou usar uma expressão um pouco vulgar (sobre Temer): é “macaco velho”. Ele sabe mexer com o Congresso. O exemplo, ele deu agora. Foi uma votação forte — afirmou o ex-presidente.
CONSTRUÇÃO DE CREDIBILIDADE
Ele defendeu que o PSDB se mantenha como aliado do governo, mesmo diante de sua impopularidade. Logo após o impedimento de Dilma Rousseff, o ex-presidente havia afirmado ao GLOBO que, se o novo governo não respondesse às expectativas, o partido deveria “cair fora”.
— Acho que o PSDB, uma vez que votou a favor do impeachment, tem que ser consequente e aguentar o momento difícil pelo qual o governo está passando. Seria puro oportunismo começar a atacar o governo Temer porque ele está impopular — disse. — Você governa sem popularidade, mas não governa sem credibilidade. O Temer está construindo a credibilidade. Acho que, neste sentido, dá para avançar.
Fernando Henrique afirmou que Temer precisa mostrar liderança e explicar ao país a necessidade das reformas. Disse também que, se o governo convencer a sociedade, o Congresso se sentirá pressionado a votar as reformas.
— Nesse momento de crise, é preciso ter gente capaz de nos conduzir. Quando estava trabalhando no Plano Real, um líder empresarial apareceu lá em casa com uma gravura que representava o seguinte: é preciso alguém que nos leve a atravessar o Mar Vermelho, e depois o deserto. Agora é um pouco disso também. Pode ser mais do que um (líder), mas que nos ajude a atravessar o Mar Vermelho, o deserto. O governo atual é uma pinguela, é frágil. Mas se a pinguela quebrar, cai no rio. Então, é preciso tentar manter a pinguela para chegar ao outro lado.
Para o ex-presidente, Temer tem capacidade de levar uma agenda política e econômica:
— Temos base para recuperar (o país). Nós avançamos muito na agricultura e em minério. O que falta? Capital. E isso tem de sobra no mundo. Não vem por causa da (falta de) confiança. Se o governo Temer focar nisso e mostrar que tem algum rumo, haverá a possibilidade de se resgatar a confiança internacional. Acho que o governo Temer tem esta responsabilidade.
Um dos desafios fundamentais para recuperar a credibilidade do país, segundo FH, está na reformulação do sistema previdenciário. Segundo projeções do governo, o rombo na Previdência deve chegar a R$ 183 bilhões no próximo ano. Uma proposta de reforma deve ser enviada ao Congresso ainda este ano. Entre as mudanças está o aumento da idade mínima para 65 anos.
— Temos cerca de 27 milhões de aposentados na Previdência, que custam R$ 190 bilhões. Nós temos 1 milhão de aposentados (no setor público) que custam R$ 90 bilhões. Então, é um sistema injusto. Não basta falar da Previdência em termos de austeridade fiscal. Tem essa injustiça, porque muitas camadas se aposentam muito cedo. É um privilégio. Vai aumentar a idade mínima de aposentadoria, mas (o problema) não é o povo. O povo se aposenta com 60 anos. É na classe média alta, nos funcionários (que está o problema). Tem que falar em nome da justiça social — defendeu.
Para Fernando Henrique, o país também precisa da redução da taxa de juros para voltar a crescer. Ele defendeu, no entanto, que o governo não imponha a redução ao Banco Central.
— Nossa dívida, pelo que falam, está na ordem de R$ 4,5 trilhões. (Representa) 70% do PIB. Falam que a Itália tem mais. Sim, mas a Itália paga juros negativos. Aqui o governo paga 14,5%. E 14,5% de 4,5 trilhões vai dar R$ 600 bilhões. Então, é óbvio que é preciso uma política que permita baixar os juros. Ninguém resiste.
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