terça-feira, 18 de outubro de 2016

Tucanos enfrentam desafio de construir unidade

• Fernando Henrique diz que seu papel é evitar que o PSDB ‘se esfacele’ em disputas internas para escolher candidato à Presidência em 2018

- O Globo

Foi com tom ameno e comentários bem-humorados que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou sobre a eventual disputa interna em seu partido, o PSDB, para formar uma chapa na disputa à Presidência da República, em 2018. FH, que participou da fundação do partido em 1988, disse que não encara a multiplicidade de presidenciáveis tucanos — “três candidatos, pelo menos” — como prenúncio de cisão na legenda. O senador Aécio Neves, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ministro José Serra (Relações Exteriores) são considerados potenciais nomes do partido para a disputa nas urnas.

Perguntado sobre o assunto durante a terceira edição do encontro “E agora, Brasil?”, promovido na última sexta-feira pelo GLOBO e pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o ex-presidente reconheceu que seu papel no PSDB é tentar evitar que a pluralidade de vozes internas se transforme em falta de unidade. Para ele, no atual cenário político, o PSDB se diferencia dos demais partidos.

— Não é que o PSDB está dividido. Tem três candidatos, pelo menos. Quem mais tem? O PSDB sempre teve esse problema. De alguma maneira, minha função no PSDB tem sido evitar que o partido se esfacele. Vamos ser capazes ou não? Não sei. Vamos tentar construir algum tipo de unidade, apesar das aspirações legítimas de pelo menos três. Não é seguro, mas no passado fomos capazes de manter alguma unidade.

Ele disse que não é contra as prévias que já começam a ser discutidas no partido:

— Se houver muita divergência, o partido deve realizar prévias. Não é um bicho de sete cabeças.

As prévias internas foram mecanismo utilizado pelo partido para escolher o empresário João Doria como candidato à prefeitura de São Paulo. A atitude, porém, provocou rachas na sigla. FH lembrou que, inicialmente, apoiava outro candidato, o vereador Andrea Matarazzo, que, sem a vaga, disputou o pleito como vice de Marta Suplicy, pelo PMDB.

Para Fernando Henrique, a vitória de Doria no primeiro turno, com 53% dos votos válidos, foi um indicativo de que o eleitorado demanda, atualmente, por propostas concretas, e não por valores associados a um viés ideológico.

DORIA, O GESTOR ELEITO EM SP
O trunfo de Doria, segundo FH, foi o de não se prender ao discurso de classe e, em vez disso, enfatizar suas qualidades como gestor:

— Doria foi eleito dizendo coisas que, no passado, seriam improváveis de lhe trazer sucesso nas urnas. Ele disse: “Eu sou coxinha”. E foi eleito. O que a sociedade quer hoje é algo concreto. As pessoas, no dia a dia, não estão se queixando de (falta de) valores, e sim de coisas concretas, de serviços que o Estado deveria prestar efetivamente. O grosso da sociedade quer de um governante a capacidade de entregar alguma coisa, e o Doria se apresentou como gestor.

O ex-presidente avaliou, com bom humor, que a imagem dos tucanos como bons gestores impulsionou o desempenho do partido não apenas em São Paulo, mas em todo o Brasil. O PSDB foi a segunda legenda que mais conquistou prefeituras no primeiro turno, saindo vitorioso em 792 municípios. Foi superado apenas pelo PMDB, que conquistou 1.028 prefeituras até aqui. Quando se trata de eleitorado governado, no entanto, a vantagem é dos tucanos, que somam 26,8 milhões de eleitores nas cidades em que foram eleitos no primeiro turno, contra 17,3 milhões para os peemedebistas.

— O cenário que favoreceu grandemente os candidatos do PSDB foi porque, de alguma maneira, ficou a ideia de ser um partido eficiente para gerir a máquina. O que eu até tenho dúvidas — comentou FH, com um toque espirituoso que arrancou risos do público.

Depois, o ex-presidente avaliou que o sistema político brasileiro “implodiu” nos últimos anos. Ele afirmou que PSDB e PMDB, partidos aliados no governo de Michel Temer, devem ser os responsáveis por tentar manter alguma estabilidade institucional até as eleições de 2018. Disse, ainda, que o atual governo tem uma “travessia complicada” no período, já que precisa lidar com as crises política e econômica.

No fim do evento, a colunista do GLOBO Míriam Leitão, uma das mediadoras do encontro, destacou que a multiplicidade de lideranças políticas pode pesar a favor dos tucanos nas eleições presidenciais.

— Em 2018, o que pode se destacar é o cenário do próprio PSDB, que tem três candidatos ou mais, enquanto os outros partidos sequer têm um candidato. Se for necessário, o PSDB decide seu próprio candidato no voto — disse Míriam.

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