• Partido é apontado como destino preferencial do prefeito do Rio, que é pré-candidato a governador
Fernanda Krakovics, Chico Otavio - O Globo
Na semana em que o ex-governador Sérgio Cabral foi preso, o prefeito Eduardo Paes procurou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Com a crise que abateu o PMDB do Rio, do qual Cabral é a principal liderança, o PSDB é apontado por aliados do prefeito como um dos destinos mais prováveis para Paes. Ele pretende disputar o governo do estado em 2018.
No telefonema, o prefeito pediu, segundo pessoas próximas, que os dois se encontrem quando o tucano vier ao Rio, onde tem um apartamento. Aécio, no entanto, estaria “com os dois pés atrás” em relação à eventual filiação de Paes, porque o prefeito já foi do PSDB, além de já ter passado por diversos partidos.
Aécio aposta, mais uma vez, no lançamento do técnico de vôlei Bernardinho para o governo do Rio. Ele já foi a principal opção dos tucanos em 2014, mas na última hora não aceitou disputar a eleição. Segundo aliados, Aécio tem dito que, desta vez, Bernardinho, que é filiado ao PSDB, vai topar, porque já passou a Olimpíada do Rio.
PAES DEIXOU PSDB EM 2007
Paes trocou o PSDB pelo PMDB em 2007. Com a mudança de partido, ele aderiu ao governo Lula, do qual era um dos mais ferrenhos opositores na Câmara dos Deputados. Na época, Paes chegou a enviar uma carta à Marisa Letícia, mulher do então presidente, pedindo desculpas pelos ataques que fez a um de seus filhos, Fábio Luiz, durante a CPI dos Correios. Antes do PSDB, Paes já tinha passado por PFL, PV e PTB.
Em conversas reservadas, Eduardo Paes tem afirmado, segundo interlocutores, que só permanecerá no PMDB se assumir o comando do partido no Rio, hoje nas mãos do presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), o deputado Jorge Picciani.
O presidente da Alerj foi acusado, em delação premiada de Benedicto Barbosa Júnior, braço-direito do empresário Marcelo Odebrecht, de cobrar propina da empreiteira Odebrecht em três campanhas eleitorais. Picciani nega.
AULAS EM COLUMBIA
Essa não foi a única citação do presidente do PMDB do Rio na Lava-Jato. Ex-dirigente da Carioca Engenharia, Ricardo Pernambuco Júnior disse, também em delação premiada, ter comprado cabeças de gado superfaturadas da Agrobilara, empresa da família Picciani. O presidente da Alerj negou a acusação e disse, na ocasião, que a operação aconteceu “rigorosamente dentro dos parâmetros de mercado de alta genética”.
O mandato de Picciani na presidência do diretório regional do PMDB vai até novembro do ano que vem. Ele foi eleito para o cargo pela primeira vez em 2012.
Em entrevista ao GLOBO no início deste mês, Paes disse que pretende continuar no PMDB. Ao ser perguntado na última quinta-feira, ele confirmou o telefonema a Aécio, mas desconversou sobre o assunto tratado. O prefeito disse ainda que não está pensando em seu futuro político no momento.
Depois de concluir seu mandato, Paes passará um ano nos Estados Unidos, onde já está sua família. Ele dará aulas na Universidade de Columbia, em Nova York. Eventual troca de partido só ocorrerá na volta para o Rio.
O atual prefeito já foi cortejado pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, mas não alimentou a conversa. O PDT quer montar um palanque forte no Rio para a candidatura presidencial de Ciro Gomes.
PMDB EVITA ATACAR PAES
Já temendo a perda de um de seus principais quadros no Rio, o PMDB evitou responsabilizar Paes pelo fracasso em fazer seu sucessor, mesmo depois de ele ter insistido em manter a candidatura de Pedro Paulo, seu auxiliar mais próximo, quando este foi acusado de agredir a ex-mulher. Posteriormente, o caso foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal.
Setores do partido, no entanto, não descartam a possibilidade de Paes sair candidato por outra legenda, com apoio dos antigos correligionários, se a situação do PMDB ficar insustentável por causa das acusações de corrupção. Seria uma solução nos moldes da encontrada pelo prefeito reeleito de Niterói, Rodrigo Neves, que trocou o PT pelo PV, mas teve apoio de seu antigo partido na disputa pela reeleição.
Além de estar na mira da Lava-Jato, o PMDB do Rio passa pelo desgaste da falência do estado, governado pelo partido desde 2007. A crise afeta o pagamento de salários de servidores, as aposentadorias e a prestação de serviços à população, como nas áreas de Saúde e Segurança Pública. Na tentativa de resolver o problema, o governador Luiz Fernando Pezão enviou à Alerj um impopular pacote para redução de gastos e geração de receitas, que não tem tido o apoio nem de seu próprio partido.
A expectativa tanto de peemedebistas como de aliados é que haja uma debandada no PMDB do Rio. Isso aconteceria na próxima janela para a troca de partido sem perda de mandato por infidelidade. Pela legislação em vigor, ela se abrirá em março de 2018, sete meses antes das próximas eleições.
Por enquanto, peemedebistas fluminenses submergiram, na tentativa de se descolar da crise. Após a prisão de Sérgio Cabral, eles afirmaram que o cenário é “muito difícil”.
Jorge Picciani e o deputado estadual Paulo Mello, ex-presidente da Assembleia Legislativa, foram os únicos que saíram em defesa de Cabral.
Antes do ex-governador, outro quadro do PMDB do Rio já tinha sido preso, o ex-deputado federal Eduardo Cunha. Ele é acusado de receber propina de um contrato da Petrobras para exploração de petróleo em Benin, na África. Cunha teria recebido cerca de US$ 1,5 milhão no exterior.
Apesar de ter ficado enfraquecido com a perda da capital fluminense, o PMDB continua à frente do maior número de prefeituras do estado. Em 2017, comandará 21 municípios no Rio.
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