- Folha de S. Paulo
O pessimismo voltou a prevalecer nas expectativas de retomada da economia. A profunda debilidade dos fatores de atividade ameaça carimbar a letra L como formato da recessão: queda vertical seguida de estagnação persistente.
É mais ou menos conhecida dos estudiosos a hierarquia das crises econômicas pelo critério da capacidade e da velocidade da recuperação. No topo da pirâmide costumam situar-se as derrocadas provocadas por mergulho nos preços dos imóveis e inadimplência hipotecária generalizada, como a ocorrida na década passada no mundo desenvolvido.
Talvez seu paralelo do lado de cá da linha do Equador, onde os empréstimos imobiliários disseminam-se bem menos, sejam as chamadas crises fiscais, os impasses sobre o financiamento do Estado. É disso que se trata, neste momento, no Brasil.
No início da Idade Moderna, o reino da Inglaterra mal fazia sombra ao poderoso e rico império colonial espanhol. As respostas diferentes dessas nações ao mesmo desafio fiscal —de que modo financiar a coroa e o gasto crescente exigido pelas guerras modernas— inverteram o quadro.
A Espanha entrou num longo período de decadência, de que só veio despertar no final do século 20, com a entrada na comunidade europeia e com toda a modernização institucional que dali decorreu.
Por essas e outras, a pesquisa historiográfica caminha para colocar as crises de financiamento do contrato político na fronteira entre o sucesso e o fracasso das nações. A depender de como a sociedade enfrenta esse problema complexo e conflituoso, ela se habilita a atravessar o rio.
A ruína das contas de União, Estados e municípios não é, portanto, apenas sinal de desgraça. Trata-se de rara oportunidade oferecida pela História de o Brasil destacar-se da geleia geral das nações destinadas ao declínio civilizatório secular.
A guerra é dura, mas o butim compensa.
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