Por Raymundo Costa, Vandson Lima, Bruno Peres e Valmir Zambrano – Valor Econômico
BRASÍLIA - Em meio à pior crise de seu curto governo, o presidente Michel Temer convocou ontem entrevista, em pleno domingo, para anunciar que fez um pacto com o Congresso contra a anistia ao caixa 2. "É preciso ouvir a voz das ruas", disse o presidente, numa tentativa de recuperar a iniciativa política e dar um freio de arrumação no governo.
Durante o anúncio, estavam ao lado de Temer os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ambos fizeram coro ao presidente. A iniciativa do presidente praticamente enterra acordo que estava sendo costurado pelos partidos, com a cumplicidade tácita do governo, de incluir a anistia entre as 10 medidas de combate à corrupção propostas pelo Ministério Público.
O acordo ocorre num momento de fragilidade do governo, que está na defensiva desde que o ex-ministro Marcelo Calero (Cultura) denunciou pressão de seu colega Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), demitido na sexta-feira, para liberar as obras de um edifício embargadas pelo Iphan em Salvador (BA). O próprio presidente acabou envolvido na trama de Geddel - o sexto ministro a cair em apenas seis meses de governo, sendo quatro deles por suposto envolvimento nos escândalos investigados pela Operação Lava-Jato ou por desejar dificultar as investigações.
Temer reconheceu que está preocupado com a delação premiada dos executivos da construtora Odebrecht, que deve atingir cerca de 150 políticos. "Se dissesse que não há preocupação com delação da Odebrecht, seria ingênuo", disse. "Claro que há preocupação de natureza institucional. Vamos verificar caso a caso que possa envolver ministros."
O presidente também anunciou que vai pedir ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República providências para que todas as audiências em seu gabinete passem a ser gravadas, como ocorre em outros países. As conversas de Temer com Marcelo Calero foram gravadas pelo agora ex-ministro da Cultura, procedimento que o presidente considerou "indigno". Monitoramento feito pelo Palácio do Planalto nas redes sociais indica aumento da adesão popular às manifestações contra anistia.
Em entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, Calero disse que gravou conversas telefônicas com Temer, mas não no gabinete. Ele disse que ficou "feliz" com a primeira conversa que teve com o presidente sobre o tema, mas que depois, em encontro no gabinete, sentiu que perdeu "respaldo".
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