Maria Cristina Frias, Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O empresário Guilherme Leal, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva em 2010, diz que o relato de Léo Pinheiro, da OAS, de que houve caixa dois para a campanha da candidata é "mentira deslavada".
A versão do sócio da OAS foi apresentada em negociação para acordo de delação premiada. Segundo Pinheiro, representantes de Marina pediram a doação para o caixa dois porque ela não queria ser associada a empreiteiras.
Em entrevista à Folha, Leal afirma que "existe um desejo claro de dizer que todo mundo é corrupto", mas ressalta que nunca fez parte desse universo.
• Folha - Como foi a reunião com Léo Pinheiro?
Guilherme Leal - Isso aqui da manchete, de que a Marina queria evitar ligação com empreiteira, não é verdade. Na prestação de contas de 2010, tem o nome de várias empreiteiras. Tem Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa.
• Não havia a orientação de evitar recursos de empreiteiras?
Não. Essa reunião ocorreu a pedido de Alfredo Sirkis. Participaram da reunião eu, Sirkis, Léo Pinheiro e um assistente meu. O Léo havia pedido uma reunião com a Marina, a Marina não quis, e o Sirkis veio aqui com ele. Posso responder pelo que fiz, e essa acusação é uma mentira deslavada. Houve doação legal de R$ 400 mil da OAS para o comitê do Rio.
• O caixa dois não pode ter ocorrido com outra pessoa da campanha do PV?
Não posso entrar em suposições. Posso responder pelo que fiz. Quando constituímos o comitê financeiro, trouxe pessoas da mais absoluta confiança. Decidimos que tanto despesas como contribuições seriam da mais absoluta transparência. Dona Marina tinha 3% nas pesquisas e eu fui um dos maiores contribuintes [R$ 11,8 milhões]. Tive uma enorme preocupação de buscar outros contribuintes para não acharem que eu estava comprando a vaga de candidato a vice. Fizemos tudo segundo a lei.
• O sr. acha que há algum interesse por trás dessa acusação de um empreiteiro?
As delações estão se tornando cada dia mais difíceis porque muitos fatos já vieram à tona. Podem existir segundas intenções? Não sou eu que vou dizer. Mas existe um desejo claro de dizer que todo mundo é corrupto, de igualar todo mundo. Eu não sou.
• Por que o sr. deixou a política?
Não é a minha vocação. Eu acho que a melhor contribuição que eu tenho a dar para a transformação social é exercer meu papel de empresário comprometido com o social e o ambiental. Faço parte de um comitê que combate a corrupção no mundo. Estou agindo politicamente, mas não em partido. Não sou mais candidato nem aceito cargo no governo.
• A Lava Jato vai limitar o alcance da corrupção no governo?
Eu já dizia antes desse episódio que a Lava Jato é absolutamente essencial, para lavar tudo que tiver ser lavado. Lavar não significa que a coisa não comece no dia seguinte. Temos que criar uma rampa para chegar a uma nova situação, baseada numa ética diferente. Precisamos de uma nova relação entre empresas e governo. O governo fazer tudo não dá certo. A mega Petrobras é a prova. Acho que o Brasil não está destinado a ser um antro de políticos corruptos e incompetentes. Foi para vocalizar isso que fiz parte da campanha de 2010. Criei uma empresa [Natura] que por dez anos foi a mais admirada do país. Criei um instituto que trata de ética e transparência. Você acha que eu vou jogar tudo isso no lixo? Doei quase 40% do valor arrecadado em 2010.
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