O fato de o País permanecer mergulhado numa grave crise econômica e a circunstância associada de a chamada classe política viver uma crise de confiança, por ter cedido ao pecado mortal do patrimonialismo que vem sendo exposto pela Operação Lava Jato, explicam o mau humor dos brasileiros em geral com o governo Temer. Esse estado de espírito não tem permitido uma avaliação serena e objetiva, a salvo do maniqueísmo do “nós contra eles”, dos muitos resultados até agora alcançados na criação das precondições indispensáveis aos objetivos de impor racionalidade na gestão da coisa pública e estimular a recuperação da economia para que toda a sociedade possa compartilhar dos benefícios da produção de riquezas.
Governos não operam milagres, embora muitos aspirantes ao poder os prometam. À exceção de uma inflação que chegara a ficar fora de controle e agora caminha em direção ao centro da meta e de alguns sinais ainda tímidos de que investidores nacionais e estrangeiros não desistiram do Brasil, o governo Temer, que assumiu de pleno direito há cerca de cinco meses, ainda não pode apresentar grandes resultados concretos de recuperação da economia. Mas tem trabalhado ativamente para cumprir o que dele se espera: acabar com a ilusão voluntarista de que recursos públicos são, por definição, ilimitados – “gasto público é vida”, proclamava Dilma Rousseff –, restabelecer o equilíbrio fiscal e criar condições para reverter a recessão que atinge os mais pobres de modo mais impiedoso. O grande exemplo é a aprovação da PEC do Teto de Gastos. Mas há dezenas de outras medidas oficiais, algumas delas de cunho marcadamente social, que já foram adotadas para minimizar os efeitos sociais perversos da crise.
É claro que sempre se pode discordar de iniciativas do governo. O que não é aceitável é que medidas sejam criticadas pelo simples fato de estarem sendo propostas pelo governo. Essa é uma tendência que se acentua – além do âmbito parlamentar – também nos círculos intelectuais e artísticos autoproclamados “progressistas”, nos quais celebridades, sempre as mesmas, preferem o aparente impacto “social” de palavras de ordem tipo “Fora Temer”, ao trabalho de debater soluções para o País.
Na verdade, o lulopetismo que hoje faz oposição a Temer e os “progressistas” que ainda reverenciam esses frustrados salvadores da Pátria ficam numa situação difícil de explicar quando se trata de medidas para combater a recessão da economia. Permitem-se, até porque foi sempre assim que se comportaram, desqualificar qualquer iniciativa que “eles”, os inimigos do povo, se atrevam a propor. Mas não podem pura e simplesmente defender aquilo em que acreditam, pois foi exatamente a fé no voluntarismo e na irresponsabilidade populista de Dilma Rousseff que jogou o Brasil na maior crise da História recente. A fórmula lulopetista para um País próspero e justo deu com os burros n’água e foi enterrada pelas urnas de outubro.
Soa patética, portando, a tentativa da oposição e de sua claque de fingir que ignoram que Temer herdou uma economia falida e se esforça para tirar o País do buraco, com a orientação de uma equipe que tem à frente o mesmo profissional, Henrique Meirelles, que durante os oito anos dos governos de Lula ocupou a presidência do Banco Central. Meirelles teve seu nome insistentemente sugerido, em vão, pelo ex-presidente a sua pupila e sucessora, para continuar ocupando lugar de destaque na gestão econômico-financeira do País. Dilma Rousseff preferiu assumir ela própria o comando da economia, para “corrigir” os excessos “liberais” da política vigente nos primeiros anos de Lula, por meio de uma “nova matriz econômica” voltada para o assistencialismo e o paternalismo que, por ironia, acabaram comprometendo a sustentabilidade dos programas sociais lulopetistas.
Os importantes progressos já conquistados por Michel Temer no saneamento das contas públicas e na modernização do aparato legal que regula a atividade econômica, como foi dito em editorial na última edição de 2016, “não são garantia de que o País esteja inexoravelmente no rumo da recuperação”, até porque o governo tem errado também, com frequência às vezes alarmante. Há sempre, certamente, mais de um caminho para seguir em frente com êxito. Mas o caminho do retrocesso, felizmente, foi interditado pela voz das urnas.
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