• Cercado por processos, nos quais já se tornou réu cinco vezes, o ex-presidente volta a usar o artifício da vitimização diante do risco de ficar inelegível
A conhecida capacidade do ex-presidente Lula de se vitimizar e tudo politizar vai ficando cada vez mais exposta à medida que o tempo passa, os inquéritos em que é acusado tramitam e se aproxima 2018, ano eleitoral, quando, não se duvida, ele, se puder, tentará a volta por cima nas urnas, para também conseguir, de quebra, foro privilegiado. Mas é pedregoso o caminho até lá.
A velha maneira de agir de Lula foi detectada assim que seus advogados entraram em cena para defendê-lo em processos que tramitam em Curitiba, no âmbito da Lava-Jato, São Paulo e Brasília. Até agora, o ex-presidente está formalmente acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes, em cinco processos, três dos quais na Lava-Jato.
Desde o início, os advogados partiram para uma defesa política do ex-presidente, enquanto o lulopetismo, certamente pelos mesmos canais usados pelo PT para espalhar no exterior a fantasiosa tese do “golpe” contra Dilma, começou a esculpir a farsa da perseguição política que Judiciário e Ministério Público moveriam contra Lula. Claro, com apoio das “elites”, refletido na cobertura da imprensa profissional.
Enorme balela, mas que mantém mobilizado pelo menos um núcleo da militância. Até faz com que juristas companheiros gastem tinta em textos supostamente técnicos para tentar provar a tese da “perseguição”.
Enquanto isso, Lula parece acelerar o cumprimento de agenda de pajelanças com seu público fiel, sempre aquele que se beneficiou pecuniariamente quando o lulopetismo teve a chave do Tesouro, até explodir as finanças públicas.
O discurso que fez na quinta-feira, em Salvador, num encontro estadual do MST, confirma a estratégia: lançar-se em 2018, com o discurso populista de sempre. Para entreter a plateia, pediu eleições antecipadas — impossíveis, por inconstitucionais. Poucos dias antes, ele havia falado abertamente que não aceitaria ser impedido de obter registro eleitoral para as próximas eleições.
E o risco é grande. Se condenado em algum desses processos e a sentença for confirmada em segunda instância, não apenas Lula será obrigado a cumprir a pena imediatamente, como, segundo a Lei da Ficha Limpa, ficará inelegível por oito anos. Dureza. Se considerarmos a relativa rapidez com que o juiz Sérgio Moro, de Curitiba, emite sentenças, quase sempre confirmadas, também com presteza, pelo Tribunal de Porto Alegre, os prognósticos são negativos para o ex-presidente.
Daí a estridência, e a frequência, com que começa a falar com a militância, mas sem se arriscar em espaços públicos. A persona da vítima perseguida será cada vez mais incorporada. Inclusive por seus advogados. Se não é possível combater no campo jurídico, que se batalhe no político. Só não se sabe se funcionará nos tribunais, independentes por força constitucional.
Mas toda esta manobra tem um aspecto de delicadeza de operação plástica: não melindrar as forças “golpistas” no Congresso, com as quais parte do PT negocia para não ficar ausente da Mesa e de comissões na Câmara e no Senado, na renovação das respectivas presidências na volta do recesso. Lula pode ser um livre atirador, ao contrário do partido. Vale acompanhar a convivência entre a legenda e seu criador.
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