- Valor Econômico
• Maciel, da AZ Quest vê ponto de inflexão com Previdência
Esta segunda-feira abre uma semana de dois tempos -que podem virar quatro -, de decisões abrangentes e de invulgar relevância. Até quarta-feira, a apresentação de dados fiscais e de atividade no Brasil impera na agenda. De quarta em diante, a mobilização da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para assegurar a eleição dos presidentes das duas Casas estará no foco, sobretudo do mercado financeiro.
Reserva emoção a escolha do comando da Câmara e sua Mesa Diretora. O chefe dessa Casa tem o poder de abrir processo de impeachment contra o presidente da República e também de assumir o Palácio do Planalto durante a ausência do titular. À Câmara cabe o privilégio de orientar a pauta de votações em plenário, onde transitam representantes de quase três dúzias de legendas.
O Senado não é menos importante. Também reúne várias legendas, mas o seu quórum é menor e, tradicionalmente, bem azeitado com o governo. A definição dos presidentes das duas casas do parlamento ganha importância pelo momento. O último presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está preso.
O atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também alvo de processos, quase deixou o posto por liminar concedida por um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que acolheu o requerimento do Partido Rede para afastá-lo do cargo. Levada ao plenário da corte, prevaleceu a decisão de manter Renan do comando do Senado, mas fora da linha sucessória da presidência da República.
O terceiro tempo desta semana está em construção: é o tempo dos Tribunais.
O STF tornou-se frequentador do noticiário. Na sexta-feira, juízes auxiliares concluíram 77 entrevistas com delatores da Odebrecht que compõem o processo da Lava-Jato. Caberia agora ao ministro Teori Zavascki homologar as delações. Com Zavascki - relator da Lava-Jato no Supremo - morto no acidente aéreo que vitimou mais quatro pessoas, a homologação poderá ser feita pela presidente da corte, Cármen Lúcia, até o fim do recesso do Judiciário, que termina amanhã, ou pelo novo ministro que será escolhido para ocupar a vaga de Zavascki. A terceira alternativa é a distribuição da tarefa entre os demais ministros.
Nesta segunda-feira também pode aterrissar no Brasil, o empresário Eike Batista, implicado em esquema de pagamento de propina que envolve o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que também está preso. O retorno de Eike ao país foi informado no fim de semana por seu advogado de defesa. Essa operação é de responsabilidade da Polícia Federal e Ministério Público.
Uma quarta aba da agenda semanal do mercado brasileiro tem compartilhamento planetário. Aqui, o protagonista é o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, sua concepção de governo, interação nas redes sociais e decisões, no mínimo, polêmicas. Para este início de semana são aguardados desdobramentos da decisão tomada por uma juíza de suspender medida anunciada na sexta, por Trump, barrando a entrada de imigrantes e refugiados nos Estados Unidos.
Ator e espectador privilegiado do cenário externo, da mobilização de grandes investidores, o economista Walter Maciel, CEO da AZ Quest, disse, em entrevista à coluna, não ter dúvida de que Donald Trump tentará realizar tudo o que prometeu em campanha. "Não à toa, todas as previsões são altistas para o dólar e para o juro americano", afirma. "Trump tem um temperamento irascível e seu Governo tende a ser marcado por grande volatilidade. Agora que temos um interregno doméstico, porque o cenário clareou, o motor começa a acelerar e precisamos torcer para que Trump não arranje qualquer encrenca com a China."
Este momento, que Maciel classifica como um interregno, foi propiciado, na sua opinião, principalmente pelo recesso do Legislativo e do Judiciário. "O recesso ajudou a mudar o clima", afirma.
A Azimut é a maior gestora independente de recursos da Itália, está entre as cinco maiores da Europa, com presença em 15 países, e tem sob gestão R$ 170 bilhões. No Brasil, a AZ Quest possui R$ 4 bilhões sob gestão e uma plataforma altamente diversificada de fundos, relata Maciel economista da PUC-Rio. Ele ingressou no mercado financeiro em 1991. Trabalhou no Safra, no Banco Garantia e no Credit Suisse. Em 2006 ingressou na Quest, controlada então pelo ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Atento à agenda do governo especialmente neste fim de recesso do Legislativo e do Judiciário, Walter Maciel confia que a aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso será um ponto de inflexão para a economia brasileira. Aprovada a proposta do governo, investidores internacionais trarão dinheiro para o Brasil. A queda da inflação e a redução mais forte da Selic na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2017 devem consolidar a expectativa de juro básico entre 9% e 9,5% no fim deste ano. "Estou otimista porque ninguém tem Brasil no portfólio. Isso quer dizer que o dinheiro ainda chegará ao país", comenta o CEO da AZ Quest.
Maciel não vê qualquer traço de euforia nos mercados, mas reitera que o pênalti que a economia brasileira está sofrendo será revertido. "A retração também contribuiu para manter o investidor arredio, mas a perspectiva já é outra. E a flexibilização da política monetária pelo BC será decisiva para a recuperação da economia. Aprovada a PEC do teto de gastos, o corte da Selic em 0, 75 ponto é a notícia boa que governo tinha para dar. Passando mais reformas pelo crivo do Congresso outras reduções dos juros virão", avalia.
Maciel vê o Brasil "virando a chave" para tempos melhores e considera a redução do tamanho do Estado no Brasil um fator relevante pois, dado o quadro de forte deterioração fiscal, o próximo ciclo de crescimento se dará através de uma agenda microeconômica (produtividade e competitividade) e da atração de investimentos. Este quadro somado aos escândalos revelados pela Lava-Jato cria momento positivo para um discurso de venda de ativos estatais.
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