- O Estado de S. Paulo
O Brasil já produz uma tonelada de grãos por habitante. É o quinto dos líderes da produção agrícola no mundo nesse quesito, depois da Argentina, Austrália, Canadá e Estados Unidos.
Quando as estatísticas focam a produção de grãos, pode ficar a impressão de que a agricultura brasileira se concentra apenas em soja, milho, arroz, feijão e outras oleaginosas. O setor ainda é grande produtor mundial de cana-de-açúcar, café, algodão, batata, silvicultura e ainda conta com as frutas, as hortaliças e todos os ramos da pecuária e da avicultura.
Quem fica nas cidades e só vê tragédias pela TV pode ficar com a impressão de que continua tudo muito ruim na economia brasileira. E, no entanto, o agronegócio está bombando. Produzirá neste ano cerca de 215 milhões de toneladas de grãos, aumento de 15% em relação à produção anterior. A vantagem adicional é a de que os preços estão, em geral, melhores do que os do ano passado. Isso significa que grande massa adicional de renda deverá irrigar o País a partir do interior. As primeiras estimativas da Conab são de que as safras que começam agora deverão injetar neste ano quase R$ 200 bilhões na economia.
Quem argumenta que, do ponto de vista do PIB, essa boa notícia é pouco relevante, na medida em que a agricultura pesa apenas alguma coisa mais do que 5% da renda nacional, deixa de prestar atenção para o fato de que a participação da indústria de transformação mal ultrapassa os 11%. O setor de mais expressão no PIB é o dos serviços, com 72% do total.
O bom momento do agronegócio arrasta consigo também boa parte do setor de serviços na medida em que se apoia e, ao mesmo tempo, apoia a infraestrutura, o comércio, transportes, fornecimento de sementes, fertilizantes, defensivos, equipamentos, máquinas, etc.
A atual expansão do setor acontece com duas principais características: grande aumento da produtividade e utilização intensiva de tecnologia de ponta.
Em 1990, o Brasil produzia 57 milhões de toneladas de grãos em 37 milhões de hectares, ou 1,52 tonelada por hectare. Neste ano, deverá produzir 3,7 vezes mais com a utilização de apenas 1,6 vez hectares a mais. (Veja ao lado o gráfico sobre o avanço da produtividade.) Esses números são a principal resposta contra aqueles que vêm afirmando que o aumento da produção agrícola vem sendo feito à custa do desmatamento e da deterioração ambiental.
O incremento da tecnologia acontece em todos os subsetores, no preparo da terra, na produção de sementes, no cultivo e monitoramento da plantação, irrigação, na colheita, transporte e armazenamento das safras. Cada vez mais o agricultor brasileiro utiliza equipamentos de última geração, que vão de semeadeiras georreferenciadas à utilização de drones para controle de doenças e pragas.
Alguns economistas temem que o sucesso do agronegócio acabe por transformar a economia brasileira num fazendão atrasado, pela baixa agregação de valor de sua produção. Está acontecendo o contrário.
O fator Trump
Não está tudo claro para o futuro do agronegócio do Brasil. Desta vez, a incerteza maior não tem a ver com as condições climáticas nem com o comportamento dos preços. A maior incerteza para a agricultura tem a mesma fonte das incertezas para as demais áreas da economia. Ninguém sabe o que, na prática, será a política econômica e comercial de Trump.
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