- O Estado de S. Paulo
Uma das mais devastadoras revelações saídas das delações da Odebrecht foi o Brasil e o mundo conhecerem que, em nosso país, o ministro responsável por ações e decisões que dão rumo à economia, aos negócios e têm efeito direto sobre a vida das pessoas pode ser o mesmo que opera o balcão da corrupção, o que troca a sanção de uma lei por propina para financiar campanhas eleitorais – tão milionárias quanto vergonhosas diante da situação de pobreza dos eleitores.
Feitos ministros da Fazenda pelos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff ao longo de 11 anos, Antonio Palocci e Guido Mantega alternavam seu tempo: ora tomavam decisões que poderiam (ou não) atrair investimentos ao País, promover crescimento e gerar empregos, ora distribuíam a propina da Odebrecht, ora recebiam empresários em seus gabinetes para garantir aprovação de leis que favoreciam a empresa do visitante e ferravam com o dinheiro público aplicado em programas sociais, saúde e educação.
Foi o que aconteceu na gestão Dilma-Mantega, com a criação de duas Medidas Provisórias (MPs) que livravam a Braskem (o braço petroquímico da Odebrecht) de pagar impostos, subtraindo verba pública, e foram reveladas na delação do herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht. A descrição do encontro foi patética: enquanto “negociava” os favores para sua empresa, Marcelo recebeu de Mantega um papel escrito “50”. Tradução: R$ 50 milhões era o preço de uma das medidas provisórias para financiar a campanha eleitoral de Dilma. A Odebrecht pagou e a MP virou lei. Essa “transação” foi conhecida com a prisão e a delação dos executivos da Odebrecht, mas o brasileiro se pergunta: quantas outras não foram “negociadas” com outras empresas? E os “campeões nacionais” abastecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)? Eike Batista era um deles.
Em democracias sérias ministros que cuidam da economia são blindados, apartados de qualquer função ou atividade política. Tal princípio é crucial para a credibilidade do país diante de sua população e de capitalistas que procuram um lugar no mundo para investir. Decisões econômicas precisam de absoluta independência para contrariar políticos e empresários poderosos, quando o bem coletivo estiver em jogo; e de transparência, para não permitir que escondidas e tenebrosas transações (obrigada, Chico Buarque) “por cima” anulem a decisão do bem comum. Antonio Palocci e Guido Mantega eram filiados ao PT, mas deveriam ter o cuidado (não tiveram) de se desfiliar enquanto permanecessem no cargo de ministro. Os brasileiros relevaram e deram a eles voto de confiança na expectativa de não misturarem a economia com os interesses partidários. Foram traídos.
Anteontem, outro deslize na mesma direção: o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não falou, mas permitiu que sua imagem fosse explorada no programa político do PSD, partido ao qual é filiado e que aposta em sua candidatura à Presidência da República ano que vem. Na TV, o PSD descreve Meirelles como o grande vitorioso contra a inflação (trunfo maior do governo Temer). E o Banco Central, não fez nada? No passado, o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli também apareceu, falou e defendeu o governo Lula e o PT no programa político do partido. A Petrobrás tem mais de 500 mil acionistas com variadas opções políticas, seu presidente não pode se apresentar como garoto-propaganda de um único partido.
Há dias o jornal Valor Econômico publicou reportagem denunciando casos de violação da nova Lei de Responsabilidade das Estatais, com nomeações políticas na Infraero, nos Correios, em Itaipu, na Brasilcap e na Caixa Econômica Federal. Na brecha da lei, eles continuam apadrinhando funcionários de carreira com o objetivo de desviar e irrigar dinheiro para os partidos políticos. Como fizeram na Petrobrás Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Pedro Barusco e tantos outros.
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