Empreiteiro afirma que a ex-presidente sabia de pagamentos a PT e PMDB por contratos da Petrobras
Amanda Almeida, com informações do Jornal Nacional | O Globo
Marcelo Odebrecht, dono da empresa, disse que contou à então presidente Dilma que pagara propina a PMDB e PT por contrato na Petrobras. Dilma sempre negou que soubesse. Ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht afirmou, em delação premiada, que avisou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a ex-presidente da Petrobras Graça Foster sobre pagamentos de propina a políticos do PT e do PMDB por contratos firmados com a empresa.
O delator narrou um encontro com Graça Foster em que contou que a empresa pagou propina relacionada a um contrato de prestação de serviços ambientais em dez países, no valor de US$ 840 milhões. A negociação teria acontecido em 2010 com a diretoria internacional da Petrobras, e o acerto, concretizado, segundo Marcelo, entre o ex-diretor da empresa Márcio Faria e os então deputados peemedebistas Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN).
Segundo Marcelo Odebrecht, a ex-presidente da Petrobras determinou uma investigação interna sobre o contrato, já que havia desconfiança do PT sobre o pagamento de propina para o PMDB. Após a sindicância, o valor do contrato foi reduzido em 43%. As informações apuradas foram enviadas ao Ministério Público, o que contrariou o empresário.
O executivo disse ainda que recebeu uma ligação de Graça Foster, que o questionou sobre o pagamento ao PMDB. Ele teria procurado Márcio Faria, que garantiu que o PT também havia recebido um repasse, também fruto do desvio no contrato. Com a resposta, Marcelo se reuniu com Graça em um hotel em São Paulo:
— Não vou mentir para você. O PT sabia. O Márcio (Faria) me disse que o (João) Vaccari (então tesoureiro do partido) sabia e também recebeu uma parte — teria dito o empresário à ex-presidente da Petrobras durante a reunião.
O empreiteiro disse aos procuradores que sua relação com Graça Foster piorou depois da reunião, incluindo uma troca de e-mails com acusações, que o próprio Marcelo teria enviado a Dilma Rousseff. Na tentativa de mediar o conflito, a ex-presidente teria recebido Marcelo no Palácio do Planalto. Segundo o delator, no encontro, Dilma manifestou preocupação que seu vice, Michel Temer, estivesse envolvido com a propina:
— Ela queria saber se Michel estava envolvido — afirmou o delator.
Marcelo Odebrecht e um ex-diretor da empresa, Cláudio Mello Filho, que também é delator na Lava-Jato, teriam avisado a Temer da desconfiança de Dilma. O empreiteiro afirmou que a propina ao PMDB teria chegado a R$ 10,2 milhões.
PREOCUPAÇÃO COM DEPÓSITOS A JOÃO SANTANA
Depois disso, com medo da Lava-Jato, Marcelo Odebrecht fez périplo por vários petistas próximos à ex-presidente Dilma Rousseff para alertar sobre a possibilidade de a operação chegar a depósitos da construtora em contas do marqueteiro João Santana no exterior. O relato é feito em trecho da delação premiada, em que ele diz ter levado planilha com os valores repassados a “Feira”, como o marqueteiro era chamado na empresa, preocupado com a possibilidade de os depósitos “contaminarem” as investigações.
O empresário relata que procurou vários petistas ligados à então presidente para relatar a existência dos depósitos no exterior.
— Levei esse tema ao (Fernando) Pimentel. Mostrei a planilha a Pimentel, porque sabia que ele tinha acesso à Dilma. Levei ao Giles (Azevedo), levei ao (Antonio) Palocci, levei ao Guido (Mantega). Levei a quem podia e dizia: “isso aqui vai contaminar”.
Marcelo diz que pediu a subordinados, em 2014, a relação de depósitos da construtora a João Santana para saber qual o nível de “exposição” da Odebrecht na Lava-Jato. Aos procuradores, ele demonstrou ter ficado assustado ao saber dos depósitos no exterior. Relatou ainda que procurou a mulher do marqueteiro, Mônica Moura, para saber mais detalhes sobre os repasses.
ENCONTRO COM MULHER DE JOÃO SANTANA
Segundo ele, o encontro com Mônica ocorreu na casa dele e foi o primeiro contato direto entre os dois. Na conversa, ela pediu que ele ficasse tranquilo, alegando que os depósitos que havia recebido fora do país “se referiam a serviços prestados no exterior”.
— Hoje, a gente sabe que uma parte dos depósitos (feitos no exterior) provavelmente era (também pagamento referente à campanha de Dilma). Eu disse a ela: “Olha, isso aí vai contaminar de qualquer maneira". Essa justificativa que ela deu, talvez, tenha sido a razão pela qual meus interlocutores nunca se mostraram preocupados — afirmou em depoimento.
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