- Folha de S. Paulo
Faz pelo menos 20 anos que o desemprego não é tão alto no Brasil. Na melhor das hipóteses correntes, deve ficar em 13%, na média deste 2017. Em duas décadas, a pior marca havia sido a de 2003, 10,2%, a do primeiro ano de Lula, decorrente das crises de FHC e do pânico com a primeira eleição do petista.
Imagine-se que a taxa de desemprego caia um tanto, mas permaneça até 2020 em nível bem mais alto que a do pior dos últimos 20 anos. O jornalista não está imaginando coisas. Esta é uma previsão dos economistas do Bradesco. Em 2020, o desemprego ainda estaria em 11,8%, na média do ano. Quanto a 2018, pelo menos, há quem esteja mais pessimista que o pessoal do Bradesco (Itaú ou Safra, por exemplo).
Previsões econômicas são o que sabemos. Por exemplo, economistas capazes de grandes instituições financeiras têm estimativas disparatadas até sobre o crescimento da economia neste primeiro trimestre de 2017. Há quem diga que foi de 0,7%. Outros, de 1,4%. Para 2017 inteiro, o pessoal dos bancões estima desde um avanço do PIB de 0,2% até alta de 1%. São diferenças brutais.
Mas volte-se à vaca fria e aparentemente morta do emprego.
Esses mesmos economistas que preveem desemprego aparentemente crônico consideram que o país deve voltar a crescer pelo menos no ritmo da média medíocre dos últimos 20 anos, algo em torno de 2,5%, por aí. Ou seja, trata-se de uma economia que, mesmo saindo uns degraus do buraco, tenderia a criar inempregáveis em massa.
A discussão dos motivos possíveis do desastre não cabe no espaço destas colunas, se por mais não fosse porque a controvérsia é grande e estudos amplos sobre o mercado de trabalho brasileiro são escassos, se tanto. Para piorar, nossa ignorância deve aumentar bastante depois desta recessão abissal.
Depois de reformas, seja lá quais forem, e de todas as sequelas causadas por desgraça recessiva assim persistente, apenas incautos heroicos devem se arriscar a dizer o que terá sido feito da capacidade dos trabalhadores de se empregar e da economia de oferecer trabalho.
No entanto, pode-se especular sobre o tamanho do risco.
Nos anos Lula, que começaram com uma lenta recuperação do emprego, a média anual da taxa de desemprego foi de 9% (descontado aquele ano inicial de problemas herdados). Nos insustentáveis anos Dilma Rousseff, de 7,5%.
Conversava-se sobre escassez de mão de obra, em particular da mais qualificada, embora faltasse gente para serviços simples e começasse uma pequena onda de imigração dos vizinhos sul-americanos.
Apesar de o país parecer relativamente pacificado, estávamos longe de ser um paraíso social. Mesmo com o menor desemprego de décadas, estourou a fúria de 2013. Mesmo nos melhores anos, o desemprego de jovens continuou alto.
Imagine-se agora meia década com uma taxa de desemprego que seja 50% ou 60% maior que a dos anos em que os maus humores ainda assim explodiram (2011-2014). De massas maiores de jovens sem emprego, correndo o risco de se tornarem cronicamente inempregáveis. De que tal desgraça ocorra além do mais nesses ambientes desesperados e de niilismo em que facções recrutam deserdados da terra.
Não convém pagar para ver se as previsões estarão certas.
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