- O Estado de S. Paulo
Sexta-feira quente, mas greve foi isolada e quebra-quebra, um tiro no pé
“Governar não é tão simples como pensam os motoristas de táxi”, declarou o ex-ministro Milton Seligman, hoje professor do Insper, no seminário sobre reforma política promovido pelo Estado. Pois é. Governar não é simples, não é fácil e o alerta é que pode fazer muito mal à saúde. Depois de dois impeachments em 25 anos, agora Michel Temer dribla popularidade abaixo do razoável, recuperação lenta da economia, desemprego crescente, pressões infernais da base aliada e bloqueio de ônibus e quebra-quebra comandados pela oposição.
Na avaliação palaciana, o protesto de sexta-feira, no início de um feriadão, ficou restrito aos movimentos e categorias ligados ao PT, sem adesão popular, sem massa. A estratégia foi parar os meios de transporte para impedir que as pessoas fossem trabalhar e que as empresas e o comércio abrissem, dando a impressão de um movimento muito maior do que era. Queimar pneus e ônibus para completar o serviço com imagens impactantes.
Para os organizadores, foi a maior greve da história, um sucesso do “povo brasileiro”. Para o governo, uma paralisação promovida por “um grupo pequeno”, com um resultado previsível e insuficiente para perturbar a reforma da Previdência. Ao contrário: com quebra-quebra e excesso de vermelho, podem ter-se isolado, dando um tiro no pé e facilitando o voto no texto governista.
Temer, que assistiu a tudo pela TV e recebeu informes todo o dia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), reuniu os ministros da Fazenda e do Planejamento para avaliar os efeitos das negociações no texto da reforma e já assinava, sem dó nem piedade, a exoneração dos apadrinhados de quem vota contra o Planalto. A traição na reforma trabalhista foi a gota d’água.
As listas de quem sai por ter sido infiel e dos que entram jurando fidelidade serão publicadas no Diário Oficial da União de terça, após o Primeiro de Maio. Exemplo: o deputado Pastor Jony Marcos (PRB), que vota contra tudo, perde seus afilhados no INSS e na Conab de Sergipe.
A tensão maior é na Câmara, que já aprovou a reforma trabalhista, mas está com a batata quente da Previdência e logo será chamada a votar o abuso de autoridade e o foro privilegiado só para os presidentes da República, Câmara, Senado e Supremo. Tudo ao mesmo tempo, com quase 10% dos deputados na lista Janot/Fachin.
Mas que Temer não descuide do Senado, onde o presidente Eunício Oliveira acaba inclusive de sair da UTI e o ex-presidente e atual líder do PMDB, Renan Calheiros, tenta fugir da Lava Jato atirando em Temer e nas reformas.
Conforme dizem empresários do campo e da cidade e confirmam embaixadores estrangeiros em Brasília, a reforma da Previdência e os próximos três meses serão cruciais para saber o que vai acontecer e o mundo apostar ou não suas fichas e investimentos no Brasil.
Aliás, esses embaixadores estão perplexos com a corrupção descomunal, mas também com a força da democracia brasileira. Apesar de dois anos de recessão, mais de 14 milhões de desempregados, a Lava Jato atingindo oito ministros e dezenas de parlamentares e um dia inteiro de protestos e fogo na TV, as instituições funcionam normalmente: o Executivo governa, o Legislativo vota, o MP investiga, o Judiciário julga. Que País do mundo enfrentaria todas essas crises simultâneas sem risco de ruptura, golpe, implosão?
Ao meio. Com a soltura de Bumlai, Genu e Eike Batista, a Segunda Turma do Supremo acena com a liberdade de José Dirceu e um festival de habeas corpus a favor dos presos da Lava Jato, mas, atenção!, o tribunal vai rachar. A divisão começa na Segunda Turma, continua no plenário e une o relator Fachin e o juiz Moro: os dois defendem cadeia neles!
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