A expor ramificações na quase totalidade do mundo partidário, a Operação Lava Jato certamente não se resume a combater o legado de corrupção sistêmica que se fortaleceu, talvez de forma inédita, a partir da ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao poder.
Sem dúvida, é intenso o processo de desmascaramento daquele que, por décadas, obtinha o respeito até mesmo de seus adversários pela suposta autenticidade de suas convicções e compromissos.
As suspeitas, que ainda estão por ser definitivamente provadas, somam-se ao fato inegável de que, como se viu desde o mensalão, o partido do ex-presidente revelou extremo pendor e pertinácia para operar ao arrepio da lei.
Um clima de passionalidade e de exaltação dá sinais de acentuar-se, contudo, na medida em que o processo da Lava Jato segue seus passos incontornáveis e se aproxima da figura de Lula.
Planejam-se, pelo que foi noticiado, manifestações favoráveis e contrárias ao ex-presidente quando se der sua primeira confrontação com juiz Sergio Moro, no próximo dia 3 de maio, em Curitiba.
Estariam sendo preparadas caravanas, em ônibus e motocicletas, para prestar solidariedade ao petista. Do lado oposto, inflam-se os conhecidos pixulecos com a imagem de um Lula presidiário, acompanhados de outra frota de motocicletas, para a ocasião.
É normal, numa circunstância dessas, e não é estranho a qualquer democracia que adeptos e adversários queiram medir forças e externar suas convicções, desde que sem violência e depredação.
Parece irrealista e desequilibrada, todavia, a atitude de ver nessa primeira audiência uma espécie de confronto entre o bem e o mal, de "hora do juízo" ou "combate do século", como alguns dos empenhados nas movimentações já se prestam a qualificá-la.
Ainda que Lula seja, obviamente, nome central em todo o processo da Lava Jato, não é o único, nem o inventor de um sistema de corrupção eleitoral de décadas.
Do mesmo modo, nada mais perigoso do que ver em Moro uma espécie de salvador da pátria, sem cujo concurso estaríamos submersos irremediavelmente na corrupção.
As instituições são maiores e mais fortes do que tais personagens, cada qual com seus exageros. Lula manobra para atrasar o processo, convocando 87 testemunhas em sua defesa. Moro retalia, exigindo a presença do ex-presidente em todas as audiências.
O embate jurídico prosseguirá por muito tempo; não há como confundi-lo com o jogo político, e este, por sua vez, não amadurece nem se resolve num clima de maniqueísmo, de irrealidade e de furor.
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