Por Juliano Basile | Valor Econômico
BOSTON - A ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) é favorável à reforma da Previdência, mas avalia que o governo Michel Temer não tem legitimidade, credibilidade e popularidade para implementar as mudanças. "Quando fui candidata pela primeira vez, em 2010, nós colocamos a necessidade de reformas e a Previdência estava entre as nossas diretrizes programáticas de 2014", disse, referindo-se às duas eleições presidenciais em que ficou em terceiro lugar.
"Nós temos uma população jovem que vai envelhecer e, com certeza, vai comprometer a sustentabilidade dos benefícios a serem pagos às pessoas. Elas precisam de sua aposentadoria. O problema é que a reforma, como está sendo proposta, no meu entendimento, traz algumas arbitrariedades que não podemos concordar", afirmou Marina ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.
Na avaliação da ex-senadora, o governo errou com idas e vindas nos debates da reforma e levou propostas injustas à sociedade. "Contribuir 49 anos para ter o benefício integral num país em que temos 13,5 milhões de desempregados é condenar ninguém a receber aposentadoria integral. Tratar os trabalhadores rurais da mesma forma que os urbanos é uma injustiça muito grande", enfatizou.
Marina criticou o fato de o governo ter anunciado que iria retirar os servidores dos estados da reforma e, depois, declarar que eles deveriam retornar, alegando que a Constituição não permite tratamento diferenciado entre servidores estaduais e federais.
"Se eu fosse parlamentar, tentaria combater e corrigir as arbitrariedades. O maior problema é que as reformas estão sendo propostas por um presidente sem legitimidade, credibilidade e popularidade". Marina ressaltou que essas três características são fundamentais para implementar reformas.
"Como é que se vai pedir sacrifício para a sociedade apenas pela estabilidade econômica. Não podemos sacrificar a agenda social, a agenda ética de que precisamos passar o Brasil a limpo. As reformas são necessárias, mas é fundamental que se tenha legitimidade, credibilidade e popularidade. Essa história de que é bom não ter popularidade e poder fazer o que se deve sem medo de perder votos é algo muito estranho".
Para ela, esse argumento leva o governo a "achar que pode fazer reformas prescindindo da sociedade". As declarações de Marina foram dadas no intervalo da Brazil Conference, evento organizado pela Fundação Lemann, empresas e bancos brasileiros na Universidade de Harvard e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
A ex-presidente Dilma Rousseff participou no sábado. Marina nunca mais conversou com ela desde as eleições de 2014. Questionada sobre o que falaria a Dilma num eventual encontro, ela disse que "não fica programando essas coisas".
"A eleição de 2014 foi mais que um embate. Foi um massacre em cima de quem apresentou programas e um massacre que faltou com a verdade. Tudo o que foi projetado em mim foi realizado por quem projetou", afirmou. "Era projetado em mim que iam aumentar os juros e os pobres iriam passar fome. Agora, nós tivemos juros altos, volta da inflação e temos 13,5 milhões de desempregados. É mais gente passando necessidade do que os que foram incluídos pelo Bolsa Família", apontou.
Para Marina, Dilma e Temer deixaram o país em crise e com uma massa de desempregados. Questionada se concorrerá em 2018, disse que está numa fase de discernimento sobre o que fará no ano que vem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário