Fatores consideráveis, mas não decisivos, têm estimulado as ambições políticas do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), para além do cargo que atualmente exerce.
De um lado, há seu agudo senso de marketing, expresso nas operações em que, vestido a caráter, investe na simbologia do gestor dedicado à zeladoria municipal.
A caiação de muros e a limpeza de logradouros públicos não responde apenas à sensação de descuido que cronicamente —e em especial durante a gestão anterior— a aparência da cidade se associa.
Tal atitude "regeneradora" busca estender-se, no plano imaginário, a um âmbito mais amplo.
Tendo alcançado a vitória eleitoral com a aura de empresário alheio aos desmoralizados esquemas da política brasileira, Doria se mostra potencialmente capaz de ocupar o vazio deixado por líderes ao centro e à direita atingidos pelas investigações da Lava Jato.
Essas expectativas, que a olho nu já pareceriam artificiais e precipitadas, recebem um sinal de alerta com os dados da pesquisa Datafolha publicados neste domingo (9).
Sem dúvida, o primeiro trimestre da nova administração obtém índices inéditos de popularidade para um prefeito paulistano. É de 43% a proporção dos que a consideram ótima ou boa, contra os 16% alcançados por Gilberto Kassab (PSD), os 20% de José Serra (PSDB) ou os 31% de Fernando Haddad (PT) em mesmo lapso de tempo.
Pode ser marginal —mas também corresponde ao natural desgaste da permanência no poder— a queda na aprovação de Doria se comparada a pesquisa de fevereiro.
Oscilou apenas um ponto (eram 44%) a proporção dos que lhe conferem avaliação positiva; deve-se assinalar, todavia, que passaram de 13% para 20% os que consideram ruim ou péssimo seu desempenho no cargo.
Seja como for, a pesquisa não vem endossar as estratégias, que se insinuam, no sentido de preparar desde já uma candidatura Doria ao governo do Estado ou à Presidência da República.
Apenas 14% dos entrevistados desejam sua participação na disputa ao Planalto no ano que vem; a taxa é praticamente idêntica (13%) quando se trata do Bandeirantes.
Para mais da metade da população, o prefeito deveria concentrar-se em cumprir o seu mandato.
Nada se pode dizer com certeza, é claro, a respeito dos destinos de uma disputa presidencial cujos participantes, no momento, mal se sabe quem serão.
De concreto, há a circunstância de que muito, quase tudo, ainda está por fazer numa cidade com os problemas de São Paulo —sendo sua turbulência cotidiana, agravada pela falta de investimentos, fator de grande desvantagem para quem quer que tenha se entusiasmado com a projeção nacional que o cargo de prefeito proporcione.
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